Metodologias transformadoras, afetos e tecnologias: caminhos para a aprendizagem integral

A educação como prática da liberdade é uma forma de ensinar que qualquer um pode aprender. Esse processo de aprendizagem é mais fácil para aqueles de nós que ensinamos e acreditamos na existência de uma dimensão sagrada da nossa vocação: que acreditamos que o nosso trabalho não é apenas partilhar informações, mas também participar no desenvolvimento intelectual e espiritual dos nossos alunos (bell hooks, 2017, p. 25).

O amor deve consistir mais em obras do que em palavras (Santo Inácio de Loyola, EE 230).

Com grande alegria, apresentamos à comunidade o 2º Simpósio de Práticas Inovadoras (2º SPI) do Colégio Medianeira, que acontecerá nos dias 16 e 19 de outubro de 2024. Neste ano, com o tema: Metodologias transformadoras, afetos e tecnologias: caminhos para a aprendizagem integral. Como comunidade de educadores/as que pesquisam e projetam a sua práxis, perguntamo-nos: que tempos são esses que nos convidam a pensar o futuro da educação? O que significa projetarmos um modelo de educação integral que dialogue com os afetos, as tecnologias e, simultaneamente, seja capaz de projetar metodologias transformadoras?

Diante desses questionamentos, voltamo-nos para a educação jesuíta, que convida a pensar a partir de uma tradição viva que situa o campo educacional no contexto de desafios do presente: contradições entre a redução das taxas de pobreza extrema desde a década de 90, coexistindo com a permanência das desigualdades sociais, culturais, econômicas e de distribuição de recursos; aumento do capital especulativo questionando a noção de trabalho como produtor de riquezas; a interdependência das nações no modelo de economia mundializada, que amplifica formas e contornos de exploração; o desafio dos fluxos migratórios, dos discursos de ódio e fechamento; e a política orquestrada de destruição e financeirização dos recursos naturais (COMPANHIA DE JESUS, 2019).

A formação integral que sonhamos se dá nesse território disputado de narrativas e práticas. A formação de sujeitos sociais (ARROYO, 2022), que intervenham no espaço coletivo, precisa, intencionalmente, reconhecer esse jogo entre o discurso e a ação para, inacianamente, sermos capazes de experienciar, refletir e agir com o estudante. Desde esse princípio, nossos currículos se revelam como sínteses das diferentes culturas presentes em nossa sociedade, com vistas a contribuir para uma formação plena dos educandos. Nessa perspectiva, focalizamos a constituição de sujeitos éticos, estéticos, espirituais e sensíveis à condição humana e da vida do Planeta, que também sofre um processo delicado de transformação, frente aos novos desafios das inteligências generativas, submissas à lógica economicista que exclui, domina e destitui de dignidade o humano. Esse cenário evidencia o papel fundamental da educação para o entendimento dessas mudanças e para o fomento do pensamento crítico em relação a elas.

Como comunidade educativa, experienciamos a riqueza do pensar coletivo no 1º Simpósio de Práticas Inovadoras, realizado em outubro de 2023. A partir dessa experiência, percebemos a relevância de partilhar as produções dos/as nossos/as educadores/as com a comunidade externa. Neste ano, além de consolidarmos a parceria acadêmica e formativa com a Unisinos, teremos a participação representativa dos/das graduandos/as dos cursos de Pedagogia da Universidade Federal do Paraná (UFPR) e da Pontifícia Universidade Católica do Paraná (PUC-PR), integrando saberes produzidos na relação entre a escola e a universidade. A formação integral das nossas infâncias, adolescências e juventudes passa pela intersecção entre o/a professor/a pesquisador/a, a sala de aula e a universidade, produzindo conhecimentos e socializando práticas tornadas ciência.

Nessa 2ª edição, contaremos com a palestra de abertura proferida pelo professor Dr. Miguel Arroyo, professor titular emérito da Universidade Federal de Minas Gerais e, com toda certeza, um dos maiores defensores na luta por uma educação integral, crítica e comprometida com a sociedade

Eixos

A escolha dos eixos temáticos do 2º SPI considera temas latentes no cenário educacional brasileiro, visando a contemplar reflexões e práticas que tangenciam os desafios impostos pela realidade atual. Nesse sentido, ao priorizar esses 7 eixos, buscamos estabelecer pontes entre metodologias transformadoras, afetos e tecnologias, como possibilidades para a criação de um horizonte potencializador das mudanças e da aprendizagem integral na perspectiva inaciana

  • Educação e tecnologias

    A relação entre educação e tecnologia no contexto escolar vem desde o uso da tradicional lousa até a presença de ferramentas de inteligência artificial. Campo de crescente interesse e inovação, essa interseção vem impulsionando novas metodologias pedagógicas que visam a atender às demandas do século XXI. O objetivo é promover aprendizagens significativas, considerando as metodologias transformadoras e os afetos envolvidos no processo de formação integral. Portanto, os trabalhos inscritos neste eixo contemplam o impacto das mais diversas tecnologias nos processos de ensinoaprendizagem, buscando entender como podem ser integradas de forma eficaz no ambiente educacional.

  • Metodologias ativas e protagonismo estudantil

    As metodologias ativas são estratégias, técnicas, abordagens e perspectivas que
    transformam os estudantes em protagonistas de seu processo educacional. Isso permite que o trabalho acadêmico seja realizado a partir de espaços de trocas. Assim, os estudantes passam a fazer parte dos planejamentos desenvolvidos pelos educadores, tornando-se parte ativa desse processo. A aprendizagem torna-se mais significativa, trazendo novas experiências para as práticas sociais.

    Pretende-se que os trabalhos inscritos neste eixo apresentem estratégias que
    evidenciem o uso de metodologias que coloquem o estudante no centro do processo educacional. Tais práticas devem ser voltadas para a formação de pessoas críticas, reflexivas e comprometidas, capazes de interagir de forma construtiva em diferentes contextos sociais e culturais.

  • Integração curricular, educação bilíngue e pesquisa

    A integração curricular, a pesquisa, bem como a educação bilíngue buscam conectar de forma significativa diferentes componentes curriculares e saberes, com vistas a promover um ensino-aprendizagem mais contextualizado e sensível às multiplicidades locais/globais. Ao relacionar conceitos e habilidades de diferentes áreas, os estudantes, mediados pelos professores, podem compreender como os conhecimentos se aplicam de forma integrada em diferentes cenários e contextos. Dessa forma, por meio de atividades conectadas com práticas sociais que privilegiam as línguas a partir de seus usos em sociedade, busca-se promover uma visão transformadora e mais abrangente da realidade e das linguagens. Nesse processo, a pesquisa se torna uma ferramenta pedagógica poderosa, que permite que os estudantes desenvolvam habilidades críticas, analíticas e de resolução de problemas, tornando-se protagonistas do próprio aprendizado. A integração curricular, a educação bilíngue e a pesquisa são pilares fundamentais para uma educação mais relevante, instigante, inclusiva e alinhada às necessidades do século XXI. Os trabalhos inscritos neste eixo destacam práticas que integram conhecimentos de diversos componentes curriculares, pesquisa e extensão, evidenciando o compromisso com uma educação de qualidade, contextualizada e que considera os sujeitos como autores na elaboração conjunta de conhecimentos.

  • Ecologia Integral, sustentabilidade e cidadania global

    Diante do cenário de ebulição climática anunciada, pensar e repensar as ações humanas em seu sentido mais amplo tornou-se imperativo. Olhar o mundo por esse viés considera que não há como propor ações sustentáveis, desconectadas da relação do indivíduo consigo, com o outro e com seu lugar. Aventar soluções que contemplem a complexidade do mundo contemporâneo perpassa por nossa vida cotidiana, pelo nosso presente e por nossa possibilidade de futuro. O conceito de ecologia integral reconhece que os problemas ambientais não estão dissociados das questões sociais e econômicas em suas múltiplas escalas. Educar para tal intencionalidade fomenta a prática da cidadania global ao pontuar que todas as ações individuais e coletivas têm consequência no mundo e no modo como vivemos. Os trabalhos inscritos nesse eixo transitam entre metodologias
    transformadoras, afetos e múltiplas tecnologias para a formação de estudantes
    comprometidos com a Casa Comum e empenhados na ação para a cidadania global. Nesse particular, têm lugar privilegiado práticas que estimulem a reflexão, a participação ativa dos estudantes e a conexão entre as experiências de sala de aula e a vida cotidiana.

  • Inclusão e diversidade

    O Brasil é um país de imensa diversidade cultural e ao longo de sua história naturalizou profundas desigualdades sociais entre grupos definidos por raça, gênero, condição socioeconômica, bem como pessoas com deficiência e neurodivergências. Diante desse quadro, as instituições de ensino têm o papel de construir currículos que considerem as necessidades individuais dos educandos, assim como suas identidades linguísticas, étnicas e culturais. Um currículo que visa à equidade também exige um claro compromisso de reverter a situação de exclusão histórica que marginaliza grupos, como os povos originários e as populações das comunidades remanescentes de quilombos e demais afrodescendentes. Igualmente, requer o compromisso com os alunos com
    excepcionalidades, reconhecendo a necessidade de práticas docentes inclusivas e de diferenciação curricular a fim de uma educação transformadora. Os trabalhos inscritos neste eixo buscam investigar as práticas pedagógicas que visam à compreensão e o reconhecimento das diferenças por meio dos afetos, da humanização do contexto escolar, o do respeito aos direitos humanos e à interculturalidade e do combate aos preconceitos de qualquer natureza.

  • Acompanhamento, avaliação e Mapa de Aprendizagens

    Acompanhamento, mediação e avaliação estão no coração do fazer educativo, com ênfase ao modo de proceder inaciano. Essa concepção educativa fundamenta a constituição do Mapa das Aprendizagens (MA) como uma releitura local que visa à qualificação do acompanhamento do estudante. O MA é uma ferramenta estratégica que organiza e estrutura as competências e habilidades que os alunos devem desenvolver ao longo de sua trajetória escolar. Ele serve como um guia para professores e estudantes, orientando o processo de ensino-aprendizagem de forma clara e objetiva.
    Com esse orientador do continuum das aprendizagens, é possível identificar os
    conhecimentos essenciais e os objetivos de aprendizagem específicos para cada etapa do desenvolvimento do aluno.
    Os trabalhos inscritos neste eixo evidenciam a importância do acompanhamento,
    avaliação e mediação pedagógica para o fazer pedagógico crítico em um colégio jesuíta.
    As estratégias de feedback realizadas desde a sala de aula são referências importantes na sistematização do processo de aprendizagem realizado pelo/a professor/a. Por meio do MA, reforçamos nosso compromisso com a excelência acadêmica e a formação integral, alinhadas aos valores e princípios da educação inaciana.

  • Comunicação não violenta e afetividade

    A Comunicação Não Violenta (CNV) é uma abordagem que busca transformar conflitos por intermédio de uma comunicação mais empática e respeitosa. A escuta ativa ganha um lugar privilegiado nas interações em sala de aula, seja entre estudante-estudante, seja professorestudante. Isso não apenas reduz conflitos, mas fortalece os laços de confiança e empatia entre todos os envolvidos no processo de ensino-aprendizagem. Essa abordagem vai ao encontro da proposta curricular sistematizada pelo Mapa das Aprendizagens do Colégio
    Medianeira, o qual serve como referencial para a formação integral do estudante, nas dimensões cognitiva, socioemocional e espiritual-religiosa. Num ambiente mais horizontalizado, onde o vetor da comunicação não está direcionado apenas do professor para o estudante, mas se baseia em trocas mútuas, os estudantes aprendem a lidar com suas emoções de maneira construtiva, desenvolvendo habilidades essenciais para a resolução pacífica de conflitos na relação com o Outro, assim como consegue administrar de forma saudável os próprios sentimentos e afetos. Além disso, os professores têm a oportunidade de se conectar mais profundamente com seus alunos, entendendo suas
    motivações e preocupações de uma maneira que vai além do conteúdo acadêmico. Nesse contexto, a avaliação deixa de ser um instrumento punitivo para ser um espaço de diálogo.
    Essa abordagem não apenas melhora o clima escolar, mas também prepara os alunos para enfrentarem desafios futuros com uma mentalidade mais colaborativa e responsável com o outro e com a casa comum. Neste eixo espera-se que os trabalhos inscritos abordem a aplicação da CNV no contexto escolar, a fim de promover um ambiente mais afetivo, acolhedor e propício ao aprendizado.

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