A Arte do Diálogo
Um time ou uma turma só nasce com a consciência do “nós”. Os times tendem a desenvolver uma meta, um sonho ou uma utopia coletiva. Não funcionam como uma linha de produção em que as pessoas trabalham em grupo, mas não em equipe. Entretanto, de um grupo não nasce naturalmente uma equipe, é preciso muito esforço e dedicação a fim de que ele se torne uma unidade.
Conta-se que um mosteiro atravessava grandes dificuldades a ponto de nele haver apenas cinco devotos: o abade e quatro monges, todos com mais de 70 anos. Um dia, ocorreu ao abade visitar um rabino para lhe pedir um conselho sobre como salvar o mosteiro. O rabino lhe disse que conselhos não poderia dar, mas que acreditava que o Messias estava entre eles. Os demais monges, ao ouvirem isso se puseram a perguntar: “O Messias é um de nós? Será o abade? Qual deles será entre os monges?”. Conforme ponderavam, começaram a se tratar com extraordinário respeito, diante da possibilidade de que algum deles fosse o Messias. As pessoas que passavam ali perto logo perceberam a aura de respeito que circundava aqueles poucos monges e em pouco tempo o mosteiro tornou-se novamente uma ordem viva (ZANDER, 2001).
Faz sentido estabelecer conexões entre esta historieta e o que dizem certos best sellers do mundo corporativo? Provavelmente. Mas o que quero dizer aqui é que me parece que ela exemplifica rapidamente o que ocorre quando as crenças que abrigamos se contradizem ou parecem incompatíveis com dados que vão sendo incorporados a novas realidades. É o que chamamos de crise. Entretanto, a historieta dos monges nos ensina também que os mapas de nossa consciência podem ser redesenhados por meio de novas narrativas e pelas consequentes suposições ou hipóteses que elas podem pressupor.
Os seres humanos alimentam-se de narrativas e ao elaborarem novos conceitos e teorias, mesmo quando não se dão conta disso, agem como sujeitos do conhecimento, ou seja, tornam a consciência mais desperta. E, “do ponto de vista do conhecimento, a consciência é uma atividade não apenas sensível, mas também intelectual dotada de poder de análise e de síntese, de representação dos objetos por meio de ideias e de avaliação, compreensão e interpretação desses objetos por meio de juízos” (CHAUÍ, 2003).
Mas também podemos modificar o foco de análise da historieta: às vezes passa-se tempo demais discutindo a respeito do que atrapalha a realização de determinados objetivos e por que razão eles não são tão facilmente alcançados. Não raro a história é contada como um conflito entre o “eu” e o “vocês”. Vemos esse padrão de uma nação para outra, entre partidos políticos, entre patrões e subordinados, entre professores e alunos e não raro dentro de nossas próprias casas. Mas há uma entidade, o “nós”, que pode estar no meio de duas pessoas, em qualquer comunidade ou organização. O “nós” tem a sua base: é simplesmente o diálogo.
“Quem ama a liberdade, ama a palavra”.
Fédon
Luciane Hagemeyer