Juliana Heleno: educação como missão
No Medianeira desde 2005, a educadora é referência em excelência humana e acadêmica.
[fusion_builder_container hundred_percent=”yes” overflow=”visible”][fusion_builder_row][fusion_builder_column type=”1_1″ background_position=”left top” background_color=”” border_size=”” border_color=”” border_style=”solid” spacing=”yes” background_image=”” background_repeat=”no-repeat” padding=”” margin_top=”0px” margin_bottom=”0px” class=”” id=”” animation_type=”” animation_speed=”0.3″ animation_direction=”left” hide_on_mobile=”no” center_content=”no” min_height=”none”] “Não acredito que as redes sociais afastem as pessoas dos livros”, afirma a educadora. Foto: Paulinha Kozlowski.
Por Jonatan Silva
Apaixonada por literatura e música, a educadora Juliana Heleno chegou ao Medianeira para trabalhar com os 6º anos – na época 5ª série – e atualmente é responsável pelo Serviço de Orientação Pedagógica da Educação Infantil ao 3º ano. Excelente humana e academicamente, Juliana é dona de uma vasta bagagem cultural e reconhecida pelo seu amor pela sala de aula e pela educação.
Para conhecer mais sobre a trajetória da educadora, leia a entrevista abaixo:
Para começarmos, gostaria que você contasse como chegou ao Medianeira?
Eu cheguei ao Medianeira em 2005 para dar aulas de Língua Portuguesa para as 5ª séries da manhã (atualmente 6º ano). Nesta época eu trabalhava como alfabetizadora na Rede Pública Municipal de Piraquara, fui convidada para uma entrevista e fui selecionada. Foi um tempo de muitas mudanças e muito aprendizado na minha vida. Mas eu adorei trabalhar com esta faixa etária. Adoro a sala de aula e quero voltar assim que possível.
O papel do professor mudou bastante nos últimos anos. Como você percebe as novas direções que a Educação tem tomado?
Eu penso que o papel do professor mudou porque o mundo mudou. Se há algumas décadas fazia sentido uma educação baseada na transmissão de informações, isso já não é mais possível. O acesso à informação coloca em xeque os projetos de educação conteudistas. Eu acredito que o professor tem um papel fundamental na relação do estudante com o conhecimento e no processo de aprendizagem de forma geral. No entanto, penso que aqueles que insistem em transmitir informações estão fadados à extinção, estes sim são e serão cada vez mais desnecessários.
Falando ainda um pouco do fazer educação. De que maneira as atuais políticas públicas têm afetado o trabalho do educador? Você acredita que estamos em um cenário favorável?
Para começar, penso que o cenário da educação do Brasil nunca foi completamente favorável. A crise na educação brasileira é crônica. Tivemos sim, em um período recente, um crescimento da entrada no ensino superior, a universalização do Ensino Fundamental, a expansão da Educação Infantil, ainda assim havia problemas estruturais profundos. No entanto, a situação é mais crítica agora. Os professores, assim como outros trabalhadores, estão vendo escorrer pelo ralo direitos trabalhistas e a tendência de precarização é muito forte. Além disso, há muita gente, incluindo políticos influentes, legislando sobre educação, sobre sala de aula, sobre relação pedagógica sem entender absolutamente nada do assunto. Isso tudo somado à desvalorização social da profissão, pode ter um resultado desastroso. Sou muito pessimista com o cenário atual.
Tem coisas da vida que eu só consegui compreender de fato nos livros. Eu leio menos do que eu gostaria, sinto falta muitas vezes de ler mais, mas nem sempre consigo conciliar isso às minhas demandas diárias.
Você tem uma relação muito estreita com os livros e a leitura. Como nasceu esse amor pela literatura?
Nasceu na infância e por influência do meu irmão, Luiz Carlos Heleno, que é poeta e compositor. Eu comecei a ler porque queria agradá-lo. Daí para frente a literatura foi se tornando para mim um meio de relação com o mundo. Tem coisas da vida que eu só consegui compreender de fato nos livros. Eu leio menos do que eu gostaria, sinto falta muitas vezes de ler mais, mas nem sempre consigo conciliar isso às minhas demandas diárias. Na vida adulta, ao ingressar na faculdade, o curso de Letras me pareceu um caminho quase natural e tenho certeza que fiz a escolha certa. Tenho grande identificação com a minha área de formação.
Em geral, grandes leitores também escrevem. Em algum momento, você já pensou em escrever literatura ou não ficção? Você tem algo guardado?
Primeiro que não me considero uma grande leitora, sou só uma pessoa que gosta de ler. Quanto a escrever, nunca pensei e não tenho planos de escrever literatura. Sou muito feliz com a posição que escolhi nesta relação: sou leitora. Quando penso em ter mais tempo para me dedicar à literatura, penso em mais tempo para ler, pois acho que tem tanta coisa boa publicada, em tantos idiomas, para cada livro lido há tantos não lidos, isso me dá uma certa tristeza.
[/fusion_builder_column][fusion_builder_column type=”1_1″ background_position=”left top” background_color=”” border_size=”” border_color=”” border_style=”solid” spacing=”yes” background_image=”” background_repeat=”no-repeat” padding=”” margin_top=”0px” margin_bottom=”0px” class=”” id=”” animation_type=”” animation_speed=”0.3″ animation_direction=”left” hide_on_mobile=”no” center_content=”no” min_height=”none”] Juliana: “penso que o cenário da educação do Brasil nunca foi completamente favorável”. Foto: Paulinha Kozlowski.
Em um texto escrito para o blog do Midiaeducação, anos atrás, você defendeu a leitura como fundamental na formação das pessoas. Em tempos de redes socais, como fazer da criança um sujeito leitor?
Defendi e continuo defendendo, acho fundamental. Em tempos de redes sociais, penso que as crianças continuam sendo crianças e gostam de histórias, de games, de brincar na lama, de filmes, de brincadeiras, de caixas de papelão, enfim. Penso que cabe tudo isso na educação, desde que nós, adultos, saibamos oferecer experiências variadas. Então penso que formar leitores é uma tarefa da sociedade como um todo, se a família é leitora as chances aumentam, se a professora é leitora as chances aumentam, se a criança ganha livros, se ouve histórias, se é incentivada a ler, as chances aumentam. Não acredito que as redes sociais afastem as pessoas dos livros, pois antes não havia redes sociais e nem por isso as pessoas liam mais. Em uma entrevista na qual o tema é Escola, Meios de Comunicação e a relação professor-aluno, estabelecendo a relação entre a leitura e os meios de comunicação e se contrapondo à ideia de que a criança não lê porque fica na TV (ou no computador, hoje em dia) a professora Maria Theresa Fraga Rocco faz uma afirmação que eu adoro:
aliás, quando falam da leitura digo que choram por um leite que nunca foi derramado. Porque se se pensar quem é que lia tanto assim vai se chegar à conclusão que, até 1930, 60% ou mais da população brasileira era analfabeta. Se nós fizermos um exame de consciência correto, sólido, nas nossas próprias famílias, pensando nos nossos tios, nas amigas das mães, nos avós, veremos que nas nossas famílias não temos figuras de grandes leitores. Não temos essa tradição. Portanto, não podemos lamentar uma coisa que nunca tivemos (ROCCO, 1998, p.79).
É sabido que você gosta muito de música – e tem um carinho especial pelo Clube da Esquina. O que mais você gosta de ouvir? Descobriu algo recentemente que gostaria de dividir conosco?
Cresci ouvindo música, meus irmãos participavam de um grupo chamado Acordança, os ensaios muitas vezes eram na sala de casa. As festas de família sempre tiveram violão e ouvir e cantar fazia e faz parte de um ritual. Meu gosto musical foi moldado pelo repertório dos meus irmãos e irmãs e é quase todo MPB. O Clube da Esquina eu descobri tardiamente, sempre amei o Milton, a voz mais linda do mundo, mas descobri a história do Clube recentemente. Além de MPB, amo samba. Tive que me esforçar para ouvir música internacional, não gostava, aí descobri o Blues e o Jazz e me apaixonei. Gosto de acompanhar os artistas locais, tem muita gente boa em Curitiba. Recentemente descobri o cantor e compositor Dábliu. O álbum Ilha Desconhecida, de 2015, é, em minha opinião, uma preciosidade, adoro ele e o trabalho dele.
A crise na educação brasileira é crônica. Tivemos sim, em um período recente, um crescimento da entrada no ensino superior, a universalização do Ensino Fundamental, a expansão da Educação Infantil, ainda assim havia problemas estruturais profundos. No entanto, a situação é mais crítica agora.
Que momento marcante de sua trajetória no Medianeira você poderia compartilhar?
Muito difícil escolher um momento. Mas vou escolher a palestra da Eliane Brum, na FLIM de 2013. Eu não a conhecia, tinha lido poucas coisas dela e a palestra me impactou muito. Fiquei fascinada pela sensibilidade da narrativa e a partir daí sigo lendo aquilo que ela escreve e ela me ajuda a interpretar e desvendar algumas realidades. Foi um presente.
Se você pudesse deixar uma mensagem ou um conselho aos estudantes que estão hoje na Educação Infantil e daqui 15 anos sairão do Ensino Médio, qual seria?
Nossas crianças da Educação Infantil estão vivendo uma experiência educativa muito diferente da que eu vivi. Com a reestruturação da proposta pedagógica da Educação Infantil, ampliamos o espaço das crianças e eles são pequenos descobridores do mundo. Fazem projetos sobre coisas diversas, fazem perguntas surpreendentes, mostram uma autonomia que não imaginávamos. Então, meu conselho para eles é, conservem esta ânsia de conhecer, cultivem a curiosidade, reguem a criatividade todos dias, continuem fazendo as melhores perguntas, pois isso move o mundo. Acreditem em vocês e acreditem que um outro mundo é possível.
Para finalizarmos, gostaria que você indicasse dois autores, um nacional e outro estrangeiro.
Autor nacional vou indicar um que também descobri recentemente, na FLIM deste ano e me encantei com a potência do que ele escreve: João Anzanello Carrascoza e estrangeiro vou ficar com Mia Couto, pois tudo o que li dele até agora me provocou encantamento, é uma paixão literária.
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