12.08.19

Pe. Claudio Paul no Colégio Medianeira

O jesuíta falou sobre sua trajetória de dedicação integral à missão da Companhia de Jesus e os desafios para a Educação na contemporaneidade.

No contexto da celebração da festa de Santo Inácio de Loyola, o Colégio Medianeira recebeu o P. Claudio Paul, SJ, Assistente Regional para a América Latina Meridional e Conselheiro do Superior Geral na Cúria Geral da Companhia de Jesus em Roma.

O jesuíta tem uma trajetória de dedicação integral à missão da Companhia de Jesus e falou sobre sua história de vida e sobre os desafios para a Educação no contexto social contemporâneo.

Confira a entrevista:

Qual é o principal objetivo da sua vinda para o Brasil e qual é a sua impressão a respeito do país e do Colégio Medianeira?

Como eu trabalho na Cúria Geral, tenho duas funções: sou Assistente Regional e Conselheiro do Superior Geral. Como Assistente Regional, acompanho a vida das Províncias da região da América Latina Meridional, formada pelas províncias do Brasil, Peru, Bolívia, Chile, Paraguai e Argentina-Uruguai. Minha tarefa é estar atento ao que o corpo apostólico da Companhia de Jesus está vivendo nessas províncias, e passar a informação para o Padre Geral para que ele possa governar essas unidades da Companhia. Dessa maneira, facilito a relação entre as províncias e o Padre Geral. Tudo que essas Províncias enviam à Cúria Geral em Roma passa por mim. Preparo a informação e a apresento ao Padre Geral. Discutimos os assuntos para que então ele tome as decisões pertinentes, as quais então serão encaminhadas aos superiores provinciais. Por isso é importante também, em algumas ocasiões, que eu visite as províncias para conhecer in loco as pessoas e comunidades, situações que estão sendo vividas, os projetos apostólicos, as dificuldades que possa haver…

Agora, por exemplo, vim ao Brasil por conta de duas reuniões importantes. Uma com todos os jesuítas que estão em formação no país, os quais são ao redor de 100 jesuítas – tanto do Brasil como de fora, porque, em Belo Horizonte, nós temos um centro de estudos superiores que acolhe jesuítas de 17 países. Logo depois houve um encontro de todos os jesuítas do Brasil. Além de tratar vários temas, nesse encontro também se deu início ao processo de discernimento do próximo Provincial, pois, para o ano que vem, deve haver mudança. São ocasiões importantes que me trouxeram ao Brasil como Assistente Regional.

Já o trabalho como Conselheiro pede que a gente tenha uma abertura para as outras regiões onde a Companhia está presente no mundo. O Conselho do Padre Geral reúne-se duas vezes por semana e discute temas que têm a ver com o corpo todo da Companhia, não só com a América Latina Meridional. Assim, me trabalho tem dois focos de atenção: um mais regional e outro mais geral.

No âmbito pessoal, você esperava de alguma forma ocupar a atual posição na Companhia?

Eu era professor antes de entrar na Companhia. Trabalhava na região de Campinas, como professor de Alemão. Com o pássaro do tempo, fui achando que a minha vida poderia ser diferente, que eu poderia me colocar a serviço de mais gente. Em parte, uma das razões fundamentais foi esta: vendo o exemplo de Jesus Cristo, lendo os evangelhos e na vida de oração eu fui tomando a decisão de colocar a minha vida a serviço de mais pessoas, como membro da Companhia de Jesus e como Padre também.

Então, eu comecei o processo da formação da Companhia. Nesse processo, eu vim até Curitiba e trabalhei dois anos aqui. E estudante jesuíta e tinha terminado o estudo de Filosofia. Mas antes de começar o estudo de Teologia, a Companhia pede que seus estudantes façam um período de trabalho apostólico. No meu caso foi trabalhar aqui no Colégio Medianeira, dando aulas de Português um tempo e, depois também trabalhando no Serviço Pastoral, na Crisma, na Orientação Religiosa.

Depois do estudo de Teologia em Belo Horizonte, fui enviado a Roma para um mestrado em Bíblia. Voltando de Roma, dei aulas de Bíblia durante dez anos em Belo Horizonte. Esse período terminou quando me ofereci para trabalhar em Cuba, que é uma das Preferências Apostólicas da Companhia de Jesus na América Latina (juntamente com o Haiti e a região Amazônica).

Fiquei trabalhando em Cuba por quatro anos e depois fui chamado para trabalhar em Roma, coisa que nunca tinha me passado pela cabeça. E as coisas vão acontecendo  assim… mas o nosso projeto pessoal é colaborar com um projeto maior que é o projeto da Companhia. Então, aonde a Companhia me manda, eu vou e estou contente! As surpresas são boas.

Como você avalia o percurso da Companhia de Jesus ao longo do tempo?

A Companhia não mudou. E mudou. Essa é a grande realidade. A proposta de Santo Inácio e seus primeiros companheiros, quando criam a Companhia, continua sendo a mesma: um grupo de homens que fizeram uma experiência muito profunda de comunhão com Jesus Cristo e, a partir dessa compreensão de suas vidas nessa experiência de fé e de sentir que são participantes da missão de Cristo, a missão que o Pai pediu que Cristo vivesse. Esses homens se colocam à disposição dessa missão, à disposição da Igreja.

E isso continua até hoje, a gente não quer outra coisa, o que a gente quer como jesuíta é isso. O que muda muito é a maneira como isso vai se concretizando na realidade. A disponibilidade para ir a qualquer lugar, levando adiante a missão, isso continua. Os modos de fazer isso variam muito ao longo do tempo. Então a motivação é a mesma desde que se criou a Companhia e o modo de viver vai mudando com o passar do tempo.

Pensando nas questões de justiça e reconciliação, quais seriam as conceituações para esses conceitos?

A compreensão da Companhia sobre justiça parte da grande tradição bíblico-cristã, é como se entende justiça a partir do povo da Bíblia, e nisso está incluído Jesus e a sua compreensão das coisas. O conceito de Justiça se aplica às situações que correspondem àquilo que se entende como o desejo de Deus para a humanidade. A gente compreende a realidade toda e a humanidade como fruto do amor criador de Deus e que existe uma proposta para essa humanidade. Então a justiça se dá quando há uma correspondência na história humana a essa proposta.

Partindo do princípio de que o ser humano é criado à imagem e semelhança de Deus, quando o ser humano corresponde a essa imagem e semelhança, ele está vivendo de maneira justa e suas relações com os outros, consigo mesmo, com a criação e Com Deus estão em seus devidos lugares. Quando as coisas não estão assim, acontece a injustiça, a qual é o desajuste que se percebe na realidade quando ela é confrontada com aquilo que se compreende como o desejo de Deus para toda criação, e de modo especial para a humanidade.

E a reconciliação é um esforço de ajudar a reajustar as coisas que se desajustaram. Em especial as relações humanas: a gente fala da reconciliação das pessoas entre si, dos povos entre si, a reconciliação de cada um consigo mesmo, e também o reajuste da nossa relação com toda a criação. Vivendo assim essas dimensões, também acontece a reconciliação com Deus. O reajuste da nossa relação com Deus acontece na medida em que a gente se reajusta consigo mesmo, com os outros e com a criação.

Para finalizar, qual seu maior sonho?

É viver tudo isso! O meu sonho continua sendo o mesmo de sempre, de quando eu entrei na Companhia: colocar a minha vida a serviço dos demais. Pode parecer um sonho meio sem glamour… mas meu sonho talvez seja chegar ao final da vida e olhar pra trás e ver que de fato eu coloquei o que sou e posso para ajudar o mundo a ser melhor e as pessoas a viverem uma vida mais bonita, porque é isso que faz a minha vida bonita também!

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