10.07.19

Uma viagem criativa

A expedição ao Peru revela o contraponto entre uma sociedade informacional e os povos indígenas

por Hugo Eduardo Meza Pinto e Wagner Roger

Há uma grande revolução acontecendo rapidamente nos negócios e nos modos de aprendizagem que deixou de ser imperceptível. Nos negócios por exemplo, muitas atividades iniciaram, de forma densa, suas migrações para a internet. Agências de banco? Daqui a poucos anos serão raridade, assim como taxis tradicionais ou corretoras de imóveis, dentre outras.

Grande parte dessas alterações econômicas se dá pela inserção, cada vez maior da tecnologia e inovação no mundo dos negócios. Uma das tecnologias que está provocando mudanças significativas na economia é a Inteligência Artificial (IA). Acredita-se que ela será capaz de ser inserida em quase todos os serviços que lidam com internet e aprendizagem. O assunto referente a IA esteve entre os mais frequentes do Mobile World Congress, principal feira do setor de tecnologia desse ano de 2018. Segundo os executivos da empresa IBM, haverá mais criação do que destruição de empregos com a inteligência artificial com um atenuante: Nenhuma profissão do mundo não será atingida.

Se isto acontecer, há perguntas para serem respondidas:

  • Que tipo de educação as escolas e universidades estão tendo para encarar esse novo mundo?
  • Como esses conhecimentos podem chegar a pessoas menos favorecidas?

A primeira questão requer uma introspectiva pedagógica de quem lida com o ensino-aprendizagem, requer também um grande senso crítico para aceitar que o ensino foi uma das áreas mais afetadas pela tecnologia e que os modos de aprendizagem mudaram significativamente. Os alunos têm mais autonomia e os professores deixaram de ser os únicos transmissores de conhecimentos na sala de aula. Esta questão é polêmica, envolvem valores antigos e já estabelecidos que estão sendo disruptados.

Procurando responder à segunda questão, nós da Amauta – Inteligência Educacional, fomos pro Peru, em março de 2018. Levamos óculos de Realidade Virtual (VR) e alguns robôs para fazer demonstrações sobre o impacto de novas tecnologia na educação, especificamente em comunidades indígenas da região da Selva Central do Peru.

Antes disso, demos uma passada no deserto de Ica, para conhecer o “Cañón de los Perdidos”, um cânion descoberto por acaso, há 12 anos por uns engenheiros que, mesmo com GPS, se perderam, daí o nome sugestivo. Como a Amauta é uma empresa destinada também ao desenvolvimento de atividades ligadas à economia criativa, fomos fotografar o deserto. Passeamos por aquela imensidão de areia e pedras, passamos por onde um dia era mar. Vimos algumas ruínas pré-incas, também exploramos alguns buracos causados, aparentemente, por meteoritos há muito tempo. Sem estrada, com um bom Jeep e um motorista experiente, chegamos no cânion para apreciar a sua beleza e refletir como a tecnologia pode ajudar a divulgar e preservar lugares como esse.

Depois dessa viagem inspiradora, fomos para Chanchamayo, na região central do Peru. Para chegar lá, subimos pela estrada a 4.800 metros sob o nível do mar. Era para passar mal, por falta do oxigênio, mas graças aos “deuses incas”, não sofremos nada. Bem, no cume, encontramos Juan, um vendedor de habas, favas fritadas com sal. Ele foi tão simpático que até fez umas caretas que foram captadas pelas lentes do Wagner Roger.

Descendo a serra, a mudança de clima foi perceptível, a mudança da vegetação e das características culturais.

Em Chanchamayo, visitamos duas tribos indígenas. A primeira foi a tribo Shipibo Rama Shawan, que estava migrando da Amazônia peruana para a região de Chanchamayo. Por ser uma tribo errante, as crianças não estudavam. Elas aprendiam a língua shipibo-conibo de geração para geração. As mães, principalmente, são as encarregadas de educar as crianças, os pais estavam a cargo de procurar um lugar para fixar a tribo. O primeiro contato, das crianças dessa tribo, com a realidade virtual, foi fantástico. Pela primeira vez, elas puderam apreciar o mundo dos dinossauros por “dentro”. Elas pediam para repetir a experiência, até o cacique da tribo ficou empolgado. Parecia ser o primeiro encontro com uma tecnologia dessas características.

  • Já pensou se pudéssemos ver o nosso meio, nossos animais e nossas paisagens?

Refletiu o cacique.

A experiência durou tanto quanto a bateria dos celulares duraram. Era impossível dizer não para as criancinhas cheias de vontade de experimentar e aprender sobre esse novo mundo.

Saímos satisfeitos dessa comunidade com a promessa de voltar com equipamentos para eles.

No dia seguinte, fomos visitar outra comunidade indígena, uma tribo Ashaninka.

Ah a maravilhosa internet e sua capacidade democratizadora!

Numa sala de aula com crianças indígenas dessa tribo, levamos, além dos óculos de Realidade Virtual, um robô do Star Wars, o BB-8, comprado nos Estados Unidos, com comando bluetooth via app do celular. A ideia era mostrar o avanço da robótica e suas implicações no aprendizado. No início da palestra, percebia-se os olhos curiosos das crianças, percorrendo todos os cantos do palco da aula. Após uma breve introdução, colocamos os óculos de VR, com a certeza tola de que ninguém saberá do que se trata, e perguntamos:

  • Crianças, vocês sabem o que é?

Silêncio total.

Colocamos os óculos e mostramos para eles como se usa.

Continuamos com a pergunta:

  • Alguma ideia?

Prestes a dizer o que é, uma criança, do fundo da sala, levanta a mão e diz:

  • É sobre Realidade Virtual?

Perplexos, perguntamos: e o que é Realidade Virtual?

Ele disse: alguma coisa relacionada à Internet?

É a deixa que esperávamos para falar sobre o assunto e, de como eles iriam aprender melhor sobre várias coisas.

Como uns magos que tiveram seus segredos descobertos, apelamos para o nosso robozinho de última geração. Tiramos ele da mochila e perguntamos:

  • Sabem o que é isso?

Silêncio total.

Tiramos o celular prontos pra mostrar a magia, quando aquele menino levantou a mão de novo e disse:

  • É do Star Wars!

Olhamos para ele e perguntamos, de onde ele conhecia, ele disse:

  • Internet, da onde mais?

Aproveitamos o menino para ser o nosso ponto focal. A partir desse momento foi a nossa ponte com os outros meninos.

Foram as duas horas mais compensadoras que um educador pode ter tido.

Moral da história:

  1. Não há lugar no mundo em que um professor não deixa de aprender.
  2. Professor, nunca ache que seu conhecimento é único.

Saímos com a obrigação de voltar levando também, óculos de VR e robôs para a aprendizagem. Já estamos em contato com as professoras dessa tribo para ampliar projetos educativos com uso de tecnologia.

Depois dessas gratas experiências, fica claro para nós que a tecnologia, utilizada de forma construtiva, é uma grande aliada para a disseminação de ensino e conhecimentos.

Como professores, defendemos o mantra:

“A tecnologia nunca substituirá professores, mas, professores que usam adequadamente tecnologia, podem substituir professores que não usam.”

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