28.02.23

Campanha da Fraternidade 2023: um apelo à encarnação redentora

O Padre Alex Palmer Sampaio Ribeiro S.J. preparou um texto explicando o tema da Campanha.

Campanha da Fraternidade 2023: um apelo à encarnação redentora

Por: Padre Alex Palmer Sampaio Ribeiro, S.J.

Sob o tema “Fraternidade e fome” e o lema “Dai-lhes vós mesmos de comer” (Mt 14,16), a Campanha da Fraternidade 2023 nos propõe um caminho neste tempo quaresmal e nos interpela a consideramos a dura realidade de milhares de irmãos e irmãs que, no nosso país, sofrem com o flagelo e a vergonha da fome.

Quando Santo Inácio, em seus Exercícios Espirituais, propõe a contemplação da Encarnação ao exercitante, no início da Segunda Semana, ele evoca uma imagem muito pertinente:

Ouvir o que falam as pessoas sobre a face da terra, a saber, como falam uns com os outros, como juram e blasfemam etc. Do mesmo modo, (ouvir) como falam as pessoas divinas, dizendo: “Façamos a redenção do gênero humano…” (EE 107).

Essa posição em que Santo Inácio coloca o exercitante, isto é, ombro a ombro com a Trindade que vê o mundo e o cotidiano dos seres humanos, sua comunicação e empreendimentos, sua maldade, tudo isto tem o intuito de fazer a pessoa rezar desde a posição desse Deus. Sem hesitar ou, simplesmente, desistir da obra de suas mãos, as Pessoas divinas decidem que a humanidade precisa ser resgatada daquela maldade que lhe corrompera.

Como não intuir que a fome, drama pelo qual atravessam milhares de pessoas, seja resultado da maldade humana em sua pior face, a da indiferença? Em nome de uma ecologia entendida de maneira equivocada, escondem-se os pobres de nossas cidades, ali onde eles são tratados como sujeira e poluição visual, sujeitos a toda sorte de escárnios e desprezo; ali nas periferias dos morros que os prédios das zonas mais abastadas tentam esconder com suas alturas. Os trajetos turísticos que se desviam dos bolsões de pobreza e miséria a todo custo para dar aos estrangeiros uma visão positiva de nossas cidades e a vontade de retornar a elas. De fato, essa é uma das maneiras como a pobreza vem sendo tratada em nossas cidades: tornando-a invisível, a ponto de ninguém precisar se incomodar com ela. Que maldade há pior que esta?

Assim, neste ano, a Campanha da Fraternidade nos motiva a fazer um sobrevoo, ao estilo daquela contemplação inaciana, sobre a realidade humana da fome. Esse sobrevoo, no entanto, haverá de encontrar pousada, ocasião de encarnação! Afinal, a CF não para na pura e simples sensibilização do olhar e do coração, mas pede que algo se faça. Nesse sentido, nesta quaresma, nossas comunidades cristãs poderão encontrar o aporte necessário para refletir e olhar à sua volta com novos olhos, procurando não apenas aliviar a fome pela doação de alimentos, mas lutando e cobrando dos poderes as devidas políticas públicas que sejam geradoras de vida aos irmãos e irmãs que estão sob o jugo terrível da fome.

Esta Campanha talvez nos leve a muitos de nós, católicos, à realidade concreta de quem passa fome. Num país que é celeiro de alimentos para o mundo e em que, de modo contraditório, a insegurança alimentar bate na porta de cerca de 33 milhões de habitantes, a realidade da fome deveria nos causar consternação.

O Papa Francisco, em 16 de outubro de 2020, Dia Mundial da Alimentação, expressou-se de maneira contundente:

Para a humanidade, a fome não é só uma tragédia, mas também uma vergonha. Em grande parte, é provocada por uma distribuição desigual dos frutos da terra, à qual se acrescentam a falta de investimentos no setor agrícola, as consequências das mudanças climáticas e o aumento dos conflitos em várias regiões do planeta. Por outro lado, se descartam toneladas de alimentos. Diante desta realidade, não podemos permanecer insensíveis ou paralisados. Somos todos responsáveis.

A nossa renovada concepção de ecologia integral deve sempre nos remeter ao ideal daquela harmonia necessária para que possamos viver bem. De nenhum modo, este ideal pretende isolar os pobres e famintos em vista de uma pretensa estética. Pelo contrário, procura colocá-los no centro de sua preocupação o quanto se fizer necessário, até que sejam tratados, sarados e acompanhados, e tenham as condições físicas e materiais que lhes devolvam a própria dignidade e, desde aí, lhes interpelem a consciência quanto ao muito ainda que temos que construir juntos, como sociedade.

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