28.06.19

Kelly Cordeiro: educação para a cidadania

Há 18 anos no Medianeira, a educadora é um exemplo de excelência humana e acadêmica.

[fusion_builder_container hundred_percent=”yes” overflow=”visible”][fusion_builder_row][fusion_builder_column type=”1_1″ background_position=”left top” background_color=”” border_size=”” border_color=”” border_style=”solid” spacing=”yes” background_image=”” background_repeat=”no-repeat” padding=”” margin_top=”0px” margin_bottom=”0px” class=”” id=”” animation_type=”” animation_speed=”0.3″ animation_direction=”left” hide_on_mobile=”no” center_content=”no” min_height=”none”]

Kelly: “a alfabetização é um ato político”. Foto: Paulinha Kozlowski.

Por Jonatan Silva.

A história da professora Kelly Cordeiro se mistura a do Medianeira. Com 18 anos de Colégio, a educadora é referência na alfabetização e um exemplo de excelência humana e acadêmica.

Kelly é apaixonada pelo ato de educar e faz de suas aulas um exercício de cidadania e construção coletiva do conhecimento.

Para conhecer um pouco mais sobre a sua trajetória, leia abaixo o bate-papo com a educadora.

Para começarmos: como foi a sua chegada ao Medianeira?
A mãe de uma estudante me conheceu – no colégio em que eu trabalhava anteriormente – e falou: “Kelly, os meus filhos terminam a educação infantil aqui e vão para o Medianeira. Você nunca pensou em levar teu currículo para lá?” Ela acabou trazendo, mas não aconteceu nada. O tempo foi passando e isso foi mexendo comigo.

Na época eu fazia faculdade e muito se escutava falar – e ainda se escuta – na PUCPR sobre o Medianeira. Eu fui percebendo que eu já tinha uma ligação com a educação do Medianeira. Fiquei pensando em como eu poderia fazer, e criei coragem, reformulei meu currículo e vim aqui em uma manhã de sol para falar com o Beto [/fusion_builder_column][fusion_builder_column type=”1_1″ background_position=”left top” background_color=”” border_size=”” border_color=”” border_style=”solid” spacing=”yes” background_image=”” background_repeat=”no-repeat” padding=”” margin_top=”0px” margin_bottom=”0px” class=”” id=”” animation_type=”” animation_speed=”0.3″ animation_direction=”left” hide_on_mobile=”no” center_content=”no” min_height=”none”][Adalberto Fávero, Coordenador do Ensino Médio e à época Diretor Acadêmico], me disseram que era com ele que eu tinha que falar para poder entrar no Colégio.

O Beto me recebeu e falou: “olha, como você não terminou ainda a faculdade, você teria que entrar como estagiária. Como a sua experiência é com Educação Infantil procure falar com a Ivana [Suski Vicentin, do Serviço de Orientação Pedagógico (SOP) dos 8º e 9º anos], que era coordenadora da Unidade de Ensino] na época. E eu fiz isso.

Logo, eu desci e conversei com ela. A Ivana fez uma breve entrevista e pediu para deixar meu nome no CIEE que, assim que houvesse uma oportunidade, eles me ligariam. E foi naquela semana que tudo aconteceu. Era 1999 e eu estava no 3º ano de Pedagogia. A minha entrada teve a mão de Deus, assim como tudo o que acontece na minha vida. Eu coloquei nas mãos Dele para que desse certo e deu certo. Desde então, eu estou aqui. Muito passou da história, da minha história, da história do Colégio, muitas pessoas importantes nesse caminho.

Algo muito visível no seu trabalho é o amor que você tem pelas crianças e pela sala de aula. Como você se descobriu professora?
Eu tive há muitos anos, na 8ª série, um professor chamado Orlando – ele era professor de Língua Portuguesa – que me despertou para a leitura, para a escrita. Acho que ele foi um dos meus grandes incentivadores. Eu lembro de um concurso de poesia, que foi aberto no colégio, e eu tive a oportunidade de participar. No colégio ficaram conhecendo as poesias que eu escrevia.

Essa sensibilidade vem desse tempo, desde a 8ª série. Com o passar do tempo e o magistério, comecei a olhar e perceber que o mundo da criança é muito diferente do nosso, que elas têm uma ingenuidade, um olhar, um carinho e vivem a vida de uma maneira autêntica, sem ter medo de ser o que são. As crianças são o que são, não colocam máscaras para viver. Acho que aí está o meu grande amor, a minha grande paixão. É como diz Hegel [filósofo alemão]: “nada na vida é feito sem você ter paixão”.

Acho que vem daí a sensibilidade da criança, o olhar da criança. Cada uma delas tem o seu mundo, a sua vida. E perceber que eu posso fazer parte dessa história – elas da minha – é algo muito mágico. Eu costumo dizer que a gente leva para sempre as pessoas que a gente conhece. Nós fazemos parte da vida delas e elas da nossa. Nada é por acaso, é o encontro de almas, o encontro de aprendizagens.

Eu procuro olhar para cada criança, e também os meus colegas de trabalho, de uma forma única – porque são indivíduos únicos no mundo. Cada um tem sua vida e tem a sua história. Acho que a afetividade perpassa por todo esse caminho. A aprendizagem não acontece sem afetividade. A criança tem que se sentir segura e feliz para a aprendizagem poder acontecer.

Essa é a construção de uma relação e que vai muito além do professor-estudante. Muitos dos meus alunos, das famílias dos meus alunos, fazem parte da minha vida, são amigos. E isso acontece aqui no Medianeira. A nossa proposta pedagógica acredita na afetividade. O conhecimento não é um fim, é um meio, e nesse meio passa a relação de afetividade, de amor e de carinho.

Outro aspecto bem importante do trabalho que você desenvolve é a alfabetização. Quais são os principais desafios desse processo?
A questão da alfabetização está relacionada – e sempre esteve, pelo menu ponto de vista – a uma questão política. A alfabetização é um ato político. O indivíduo precisa se sentir parte desse meio em que ele está inserido. E a alfabetização faz isso. A criança se sente autora daquilo que ela está escrevendo. E quando ela se sente assim, ela é cidadã. É preciso levar isso para transformar a sociedade, para que o estudante possa ser crítico e criativo. Temos que ver a alfabetização muito além do “ler e escrever”. E como fazer isso? Por meio de textos, porque os pequenos têm todo o parâmetro e capacidade para entender, e levar assuntos de destaque para a sala de aula. É onde eles trazem muita curiosidade e vontade de aprender.

Além de um ato político, a alfabetização é também um ato social, emocional, afetivo. É toda essa relação.

A aprendizagem é feita por meio do afeto. Foto: Paulinha Kozlowski.

Anos atrás a alfabetização acontecia quase que exclusivamente por meio de cartilhas e livros. Hoje observamos a tecnologia também como ferramenta pedagógica. O contato das crianças, cada vez mais cedo, com os aparatos tecnológicas é positivo?
Acredito que, em tudo na vida, a gente precisa ter equilíbrio. Claro, a tecnologia nos abre as portas para o mundo, a gente pesquisa sobre qualquer coisa na internet. E as crianças percebem isso muito cedo, de que elas podem achar as respostas. Isso muda o papel do professor. Hoje, o estudante tem acesso fácil à informação, agora o conhecimento é algo que a gente precisa trabalhar, buscar e ensinar. As turmas vêm diferente para a sala de aula. O papel do professor é justamente aguçar a curiosidade, o amor, a bondade por aprender mais.

O conhecimento nos abre caminhos e vai muito além da informação. Dentro da faixa etária com a qual eu trabalho, tem que ter o equilíbrio. Eles são fascinados por tecnologia. Muitas mães perguntam: “como eu faço e como eu posso interferir?” E a resposta que eu dou é essa: tem que ter o equilíbrio. Tem também que buscar a biblioteca, buscar as livrarias, buscar o livro. O livro tem o contato, eu estou pegando, estou vendo. Para mim existe todo um carinho, toda uma história. Os livros nos rementem a emoções.

Uma vez escutei que a geração atual não é, necessariamente, mais inteligente que a anterior por saber usar a tecnologia. Essa facilidade acontece justamente porque os nascidos pós-2000 já são “nativos digitais”. Você concorda?
Não é uma escolha da criança. A tecnologia está no mundo e a gente acaba lidando com ela. Vai de como o adulto lida com isso. E não é questão de ser mais ou menos inteligente. A tecnologia desperta diferentes habilidades mais cedo. Na minha época não era assim.

São habilidades com a abstração, a linguagem. A criança vai construindo habilidades e repertório mais cedo. A sala de aula a gente tem que buscar o equilíbrio, trabalhando com estratégias que possam levar essa tecnologia, mostrar como usar, e não descartar, possibilitando o trabalho com ela.

O 1º ano do Ensino Fundamental é um período de transição e de muitas descobertas para os pequenos. Como transformar esse momento em uma experiência rica em aprendizagens?
Existe toda uma transição. Elas saem de um espaço que é a Educação Infantil, e vem para o espaço que é o Ensino Fundamental. Aí, já nos mostra que mudou alguma coisa. A criança percebe muito rapidamente: “se mudou o meu espaço é porque algo está diferente”.

Para a transição, nesse sentido, é importante que os pais conheçam bem como vai funcionar o 1º ano. Os pais precisam passar essa segurança.

A gente faz essa transição de maneira tranquila. As crianças vêm sabendo como é o 1º ano, percebendo o dia a dia, tendo contato com os espaços que farão parte da sua vida, tentando trabalhar com calma e transparência. A segurança é a palavra-chave.

Agora vamos falar um pouco de você. Quem é a Kelly fora do Medianeira?
Eu costumo falar para os pais nas reuniões que eu tenho duas grandes paixões na minha vida. A primeira delas são as minhas filhas, Marcela e Clara, elas são o que me move a cada momento, a cada amanhecer. Hoje, por exemplo, a Marcela já está indo para o 8º ano e nós já trocamos de forma diferente. Ela diz: “mãe, você já leu tal livro?”. Isso é muito mágico, porque aquilo que eu sempre busquei com as minhas turmas, eu vejo acontecendo na minha casa e com as minhas filhas.

O Medianeira faz parte dessa história e isso é muito lindo. Outro momento muito especial foi quando elas vieram para cá. Eu lembro muito bem do dia em que eu entrei com a Marcela e Clara. O Medianeira é algo que eu amo e eu acredito. É muito maravilhoso.

A Kelly fora do Medianeira é a Kelly mãe, a Kelly esposa, a Kelly tia, a Kelly irmã, a Kelly filha. E eu procuro viver com a minha família de maneira muito intensa. A minha família é muito importante para mim, nós sempre passamos muitos momentos juntos. Eu gosto muito de viajar com eles. Adoro ler.

E o que você está lendo agora? Ou qual o foi último que você leu?
O último livro que eu li foi justamente um que a Marcela me indicou. Chama-se O Homem que lia as pessoas [de João Anzanello Carrascoza e Nelson Cruz], que conta a história de um pai e de um filho. A Marcela, percebendo a minha sensibilidade, me deu o livro na mão e disse: “você vai amar esse livro”.  Realmente, eu me apaixonei pelo livro. A literatura faz parte da minha vida, está sempre presente. Ontem eu li com a minha filha mais nova, a gente têm esse hábito, eu leio uma página, ela lê outra. Era um livro da Ana Maria Machado e ela falou: “mãe, você nunca pensou em escrever livros para crianças? As crianças adoram você, vão adorar seu livro também”.

De todos esses anos de Colégio, qual foi a lição mais significativa que você aprendeu com seus estudantes?
Acho que no dia a dia a gente tem muitas experiências com os estudantes que são muito significativas. Dependendo de como você olha para cada palavra, para cada frase, você descobre momentos muito importantes – desde quando escrevem na agenda, isso muda aquele dia.

Claro, tem também aquele momento em que a criança aprende a escrever. A gente sempre bate palma e faz festa na primeira palavrinha, na primeira leitura. Acho que esses são momentos muito importantes. Depois tiveram homenagens junto com as mães, surpresas que me deixaram muito feliz.

Além disso, o Medianeira está fazendo 60 anos e no jantar, do dia 29 de setembro, muitos momentos me passaram pela cabeça e como tudo foi acontecendo, as pessoas que passaram. A vida é feita de pessoas, elas nos marcam, nos deixam e nos levam.

Existe alguma história engraçada que poderia compartilhar conosco?
Teve uma coisa muito engraçada, um momento que foi muito divertido. E nunca contei para ninguém a não ser para o meu marido. Eu tinha uma reunião muito importante com os pais, os coordenadores também presentes, e naquela correria do dia a dia de mãe, já viu. Eu tenho botas muito parecidas, pretas, mas o que mudava era uma fivelinha. Quando eu cruzei a perna, olhei para chão e me dei conta que estava com um pé de uma e um pé de outra. Eu falei: “Kelly, você tem que focar na reunião”. Eu estava com muita vontade de dar risada, mas a reunião era muito séria. Quero deixar claro que eram parecidas.

Outro momento muito engraçado, mas de muita emoção, foi quando eu estava fora do colégio, em uma feira com a minha família, uma estudante me toca: “você é a professora Kelly? É sim.” Eu falei que “sim”. Ela disse que tinha que me contar uma coisa – e ela era de umas das primeiras turmas que eu tive –: “você lembra de mim?” “Lembro sim”, eu disse. “Eu casei”, e ela falou o nome do marido, que tinha sido colega de turma do jardim 2. E ela estava com a filhinha. Foi muito lindo.

Para finalizarmos, você poderia indicar um livro, um disco e um filme?
Disco:
– Legião Urbana
– Marisa Monte

Livro:
– Pássaros feridos, de Colleen McCullough

Filme:
– A Sociedade dos poetas mortos, dirigido por Peter Weir

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