24.05.17

Lidiane Grützmann: bondade e educação

A educadora é professora de Ensino Religioso dos 6º e 7º anos do Colégio Medianeira.

Texto e entrevista por Jonatan Silva

Lidiane Carneiro é professora de Ensino Religioso das turmas de 6º e 7º anos e, com seu espírito acolhedor e respeitoso, a educadora estabelece uma relação de amor e dedicação à disciplina e aos estudantes. Pautada pela proposta de Aprendizagem Integral e pela formação de sujeitos capazes de ver o mundo como um lugar mais justo, Lidiane é um exemplo de excelência humana e acadêmica.

Leia abaixo o bate-papo com a educadora.

Como você chegou ao Colégio Medianeira?
Durante meu mestrado conheci pessoas que eram professores daqui. Eu não conhecia o colégio até então, fui conhecer o Medianeira pela fala desses colegas. O entusiasmo com que eles falavam do Projeto Político-Pedagógico me motivou.

Naquele momento, meu filho era ainda um bebê, mas quando ele alcançou a idade escolar eu o matriculei aqui, inspirada por esses colegas – que brilhavam o olho quando falavam da proposta. Logo depois eu mandei meu currículo por conta de querer trabalhar e partilhar desse projeto.

E o que mudou da sua visão de mãe para educadora?
Como mãe, acredito nesse projeto para meu filho. Como professora, acredito no projeto para todos os estudantes.

Por que o Ensino Religioso ainda é importante?
A matriz curricular do Ensino Religioso é formada pela Filosofia, pela Sociologia e pela Antropologia. A partir dessa tríplice matriz que a disciplina se orienta. Os estudantes estão superexpostos aos conteúdos midiáticos e eu acho que o Ensino Religioso ajuda os jovens a perceberem o que eles vão fazer como tanta informação. Acho que esse é o principal objetivo do Ensino Religioso: é o momento no qual ele [fusion_builder_container hundred_percent=”yes” overflow=”visible”][fusion_builder_row][fusion_builder_column type=”1_1″ background_position=”left top” background_color=”” border_size=”” border_color=”” border_style=”solid” spacing=”yes” background_image=”” background_repeat=”no-repeat” padding=”” margin_top=”0px” margin_bottom=”0px” class=”” id=”” animation_type=”” animation_speed=”0.3″ animation_direction=”left” hide_on_mobile=”no” center_content=”no” min_height=”none”][o estudante] vai parar e pensar sobre qual o seu papel diante de toda aquela informação, qual é o sentido daquela informação e, inclusive, qual é a utilidade – não de modo pragmático – daquela informação. Essa informação pode se transformar em algo que possa ajudar para que as pessoas sejam melhores?

É o momento de parar e refletir em como todas essas informações me afetam enquanto sujeito e afetam a sociedade na qual eu estou inserido.

A disciplina de Ensino Religioso está centrada na ligação do estudante com o mundo e consigo. Foto: Paulinha Kozlowski.

Que questionamentos os alunos trazem a partir da sua aula?
São sempre os mais variados possíveis e isso é uma das delícias da disciplina. Nós sentamos muito em círculo e criamos um espaço de fala e de escuta onde compartilhamos inquietações e problematizações.

Eles questionam muito sobre os padrões sociais, sobre os valores que eles precisam respeitar e, porque eles são adolescentes, têm os primeiros pensamentos transgressores próprios dessa fase. Ouvir tudo isso e ser um espaço de acolhimento para essas problematizações eu acho bem importante. Eles se perguntam sobre questões ambientais, sobre a questão animal, sobre qual é o lugar do ser humano no planeta.

Semana passada fizemos um debate sobre os Direitos Humanos e outros direitos que os seres humanos precisam para viver com dignidade. Apareceu uma situação assim: “professora, a tecnologia também tinha que ser um direito”. Isso é uma coisa que eles trouxeram. Se a tecnologia é resultado de um trabalho humano e se o trabalho humano tem como princípio o serviço ao outro, porque a tecnologia é restrita apenas a algumas pessoas que normalmente estão ligadas a uma classe social mais alta? E isso dentro da saúde, da educação. Esse é um exemplo de problematização que saiu por conta do conteúdo.

Como o Ensino Religioso permite a formação de sujeitos competentes, conscientes, compassivos e comprometidos?
Eu fico com os estudantes por dois anos, no 6º e no 7º ano. No começo do meu contato com eles eu já estabeleço essa diferença do significado da instituição religiosa – que é a igreja – e o significado da palavra religião, que é o religare. Eu explico que é a partir desse significado profundo da palavra religião que a disciplina vai se encaminhar.

A partir da compreensão da importância da religação, os conteúdos surgem como pontes que favorecem a reconexão. Ao trabalhar os Direitos Humanos, por exemplo, visualiza-se um modo de praticar essa religação. Isso me aproxima da ideia do respeito, da não discriminação, do direito que o outro tem à vida e à dignidade. É uma forma de eu estar conectado com a demanda do outro. Todos os conteúdos que são escolhidos e pensados dentro do Ensino Religioso têm a intenção de promover a reconexão desse ser humano, desse aluno, com o outro, primeiro porque ele é um ser social, e com a natureza, porque ele é também um ser entre os outros, não o mais especial. Buscamos interromper conceitualmente o princípio antropocêntrico de superioridade humana, justamente, para promover essa reconexão. Você não é superior, você está ligado e pertencente a essa grande vida que é e está no nosso planeta.

E os 4 C’s são uma consequência da escolha desse conteúdo. Um estudante compromissado é aquele que se entende parte. Se ele se acha a criatura mais especial do planeta, ele está desconectado, desligado. O Ensino Religioso promove essa religação no sentido em que ele explica como a sua vida a e vida do planeta é uma só.

Que resultados você percebe nas turmas ao longo desses dois anos?
São dois anos de amadurecimento. No final do 7º ano é muito legal perceber a qualidade das problematizações, a profundidade das problematizações que os estudantes trazem, a qualidade das perguntas que eles são capazes de fazer. Não que tenha de cor, por exemplo, os Direitos Humanos, mas a forma como eles conseguem se posicionar diante do conhecimento de uma forma crítica, de uma forma problematizadora, de uma forma questionadora.

Isso é bacana, a forma como o estudante revê a sua própria opinião, porque isso também é algo bem interessante de perceber. Como eles mudam, como eles saem de um debate no 6º ano, por exemplo, que é mais senso comum, incorrendo muitas vezes em visões estereotipadas. Quando surge um estereótipo em uma fala eu faço esse trabalho de, delicadamente, mostrar que é preciso rever aquele posicionamento para que não se transforme e um discurso do ódio. Já no final do 7º ano, esse tipo de leitura o(a) aluno(a) já está fazendo sozinho. O trabalho de fundamentar a própria opinião já é um trabalho que eles fazem melhor, claro, é só o começo de uma caminhada.

Qual o papel do educador para fazer do mundo um lugar mais justo?
O educador precisa, antes de tudo, acreditar que esse mundo mais justo é possível. Se ele não acreditar, não consegue inspirar/provocar essa esperança na turma. Eu acredito que esse mundo justo é possível graças às relações pessoais imediatas que estabelecemos. Meu trabalho se dá a partir de uma relação educativa, então, o quanto eu conseguir transferir e imprimir de empatia, de altruísmo, de bondade e de solidariedade dentro dessas relações mais próximas e ampliar isso aos poucos, já consegui fazer alguma coisa.

Que momento marcante da sua trajetória no Medianeira você destacaria?
Às vezes eu faço a leitura de um texto, de um poema ou de um conto, chega no final daquela leitura e o estudante olha para você e diz: “uaaau”. Esse é o momento ápice para mim, pois sei que aquele estudante foi tocado via estratégia e/ou conteúdo. Quando esta abertura foi alcançada, então certamente terá condições de refletir e problematizar para além do que foi lido.

E que fato ou situação engraçado você poderia compartilhar?
Eles tentam transgredir algumas regras, principalmente no 6º ano, e eu acho isso sempre muito engraçado. Por exemplo, vamos fazer um grupo com quatro estudantes e daqui a pouco tem 6 amontoadinhos ali atrás, quietinhos, como se eu não fosse perceber. Eu falo: “gente, o que é isso?”. “Tá vendo, eu falei, ela ia perceber”.

Para finalizarmos, gostaria que você indicasse um livro, um filme e um disco.

Disco: Acabou chorare, dos Novos Baianos

Livro: Histórias de cronópios e de famas, de Júlio Cortázar

Filme: Persona, de Ingmar Bergman.

Clique aqui para ler o perfil de outros educadores.[/fusion_builder_column][/fusion_builder_row][/fusion_builder_container]

Ícone - Agende uma visita
Agende uma visita
Ícone - Matrículas
Matrículas

Utilizamos cookies para melhorar sua experiência em nossos sites e fornecer funcionalidade de redes sociais. Se desejar, você pode desabilitá-los nas configurações de seu navegador. Conheça nossa Política de Privacidade.

Concordo