27.09.10

Um dia de palhaço


Sábado fui a uma festa a fantasia. Que divertido, meu deus, como a gente dá risada neste tipo de festa, ainda mais se lá estão pessoas que você conhece, convive e quase nunca tem a oportunidade de vê-las fantasiadas daquele jeito: ridículo.

Na última festa que eu tinha ido, como sempre, deixei pra pensar na minha fantasia no último dia, algumas horas antes da festa. Eu e minha namorada não somos muito bons em planejamento, e em cima da hora, claro, saiu de improviso. Resultado: pegamos umas roupas velhas de uma das avós dela e fomos fantasiados de “véias” (vou manter o acento, embora saiba que, segundo a nova ortografia, ele caiu. Mas acho muito estranho escrever “veias”). Isso mesmo, éramos um casal de véias tricoteiras. Até que, pelo improviso, foi o maior sucesso, porque encarnamos as personagens e o pessoal da festa deu bastante risada.

Como não poderia ser diferente, nesta última festa também não nos planejamos, e lá estávamos nós, desesperados, pensando como iríamos à festa… no dia da festa! Pensamos em ir de estátua de sinaleiro, Don Quixote e Sancho Pança, O gordo e o magro, Asterix e Obelix, dentre outras ideias que não valem a pena nem citar. Todas elas davam muito trabalho e tínhamos pouco tempo para confeccioná-las.

Eis que veio a ideia: vamos de nossas próprias sombras! Vamos construir tipo um teatrinho de sombras (uma espécie de um caixote em que ficamos dentro, acendemos uma lanterna e projetamos nossas sombras em uma das faces do caixote). Bom, comparado às ideias anteriores, esta era a pior delas, sem dúvidas. Mas, por motivos que talvez nem Freud explique, nós embarcamos nesta empreitada… lá fomos nós construir nosso caixote, nossa fantasia.

Já era meio dia de sábado e nos lançamos pela cidade em busca de ripas de madeira, papelão, tecido, EVA e papel manteiga. O centro da cidade estava um caos, cheio de propaganda eleitoral, e os vendedores definitivamente não compreendiam o que a gente tava querendo fazer, o que dificultou bastante a busca pelos materiais. É incrível como coisas aparentemente  simples (quando pensadas), podem tornar-se extremamente árduas (quando executadas). Fazer o caixote foi árduo, começando pela busca aos materiais.

Mas, enfim, arranjamos tudo que, em teoria, precisaríamos. Só faltava montar o caixote. faltava montar o caixote? Em teoria, era só pregar umas ripinhas, o papelão em torno da caixa, uma das faces seria de papel manteiga (onde as sombras ficariam projetadas), colar uns tecidos ao redor da caixa, e emoldurar a face de papel manteiga com o EVA, para dar um acabamento. Na prática, este simples caixote foi ficar pronto muito depois da festa já ter começado…

A pior das notícias é que o trambolho do caixote – que até que deu certo, ficou bem bonitinho e havíamos conseguido com sucesso o resultado esperado (iríamos à festa fantasiados das nossas próprias sombras) -, na hora de ir para a festa, não cabia no carro! Tentamos de assim, de assado, de atravessado, de fianco, de ponta cabeça, de tudo quanto é jeito! O caixote, de fato, não iria à festa, e nós, totalmente desmotivados, resolvemos ir de palhaços. Pois é, escolhemos esta fantasia prá lá de improvisada e mais pra lá ainda de atrasados, primeiro porque era o que dava pra fazer apenas com um estojo de maquiagem (a roupa, demos o seguinte jeito: fomos com um traje todo preto, à lá clowns) e segundo porque era o que melhor representava nosso estado de espírito: nos sentíamos, de fato, dois palhaços tentando improvisar uma fantasia construindo um caixote de madeira e papelão!

Mas, no final das contas, indo para a festa, começamos a dar risada de toda aquela odisseia para montar uma fantasia, e começamos a fazer piada de nós mesmos, aproveitando que estávamos de nariz de palhaço (por sinal, o nariz do palhaço é peça fundamental para que ele se torne engraçado, especialmente se forem estes bem baratinhos de um-nove-nove, porque eles fecham nossas narinas e a voz acaba saindo fanha). De cara pintada de palhaço, de voz fanha e com um baita sentimento de palhaço, por ter apanhado o dia todo para um caixote que não deu certo, a cena estava armada para uma noite de muita diversão: dar risada pelo nosso dia de palhaços.

Escrevendo o texto de hoje, fiquei pensando o que seria da vida sem as nossas trapalhadas. Rir das nossas próprias tragédias faz muito bem, e é um belo jeito de começar a semana.

Boa semana e boas trapalhadas a todos, e não esqueçam de tirar o nariz antes de dormir…

Um abraço,

Juliano Pilotto.

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