31.10.17

Carrascoza: “o mundo é indiferente à nossa sensibilidade”

Autor de mais de 30 livros, João Anzanello Carrascoza reconhece a literatura como um ato político.

[fusion_builder_container hundred_percent=”yes” overflow=”visible”][fusion_builder_row][fusion_builder_column type=”1_1″ background_position=”left top” background_color=”” border_size=”” border_color=”” border_style=”solid” spacing=”yes” background_image=”” background_repeat=”no-repeat” padding=”” margin_top=”0px” margin_bottom=”0px” class=”” id=”” animation_type=”” animation_speed=”0.3″ animation_direction=”left” hide_on_mobile=”no” center_content=”no” min_height=”none”] Autor de mais de 30 livros, entre títulos que passeiam em vários gêneros da ficção e da não-ficção, João Anzanello Carrascoza reconhece a literatura como um ato político. Foto: Divulgação.

Por Jonatan Silva

João Anzanello Carrascoza é um nome forte da literatura brasileira contemporânea. Escritor profícuo, possui uma prosa recheada de poesia e de reflexão, pontuando a complexidade de ser um sujeito pensante e engajado consigo e com os outros. Carrascoza é um dos convidados da Festa das Linguagem do Medianeira (FLIM) deste ano e conversou com exclusividade sobre o papel da literatura e dos livros na sua formação como ser humano.

Em O Sentido de um fim, Julian Barnes afirma que a receita para felicidade familiar é não ter uma família. Nos seus livros, a lógica é justamente o contrário. É possível criar uma relação sadia com a família?
A felicidade familiar pode acontecer tanto para o indivíduo que não tem família, como diz Julian Barnes, como para aquele que tem família e, em seu núcleo, aprende a respeitar o outro, a ter tolerância com a alteridade e, sobretudo, a experimentar todos os tipos de sentimento que a vida em família proporciona. Há espaço na vida social para quem valoriza e quem não valoriza os vínculos familiares – cabe a cada escritor se dedicar aos temas que lhe são essenciais, sem prescrever fórmulas (pelo menos é o meu caso) para os outros. Cada um deve saber da dimensão de suas inquietudes e da legitimidade de seus afetos.

Seu pai, que era vendedor de cereais, contava muitas histórias enquanto vocês viajam juntos. Na sua opinião, qual a importância da família na sua formação como sujeito leitor?
O espaço familiar, e também o escolar, foi fundamental para que eu aprendesse a ler, não apenas a palavra, mas o mundo e as pessoas. Escrevi sobre esse despertar do leitor crítico, disposto a penetrar em camadas mais fundas dos textos, em episódios de minha obra: no conto “Segunda cartilha” do livro Meu amigo João, e num dos capítulos do romance Aos 7 e aos 40.

Seu universo literário tem uma ligação forte com o passado, porém, sem ser revisionista e chegando até a manter certa distância. Em tempos difíceis como o presente, não corremos o risco de ter no passado um lugar seguro, confortável e idealizado?
A literatura, ao meu ver, é sempre uma evocação, uma tentativa de tornar presente um mundo possível, construído pela capacidade ficcional do escritor – e, uma vez construído, esse mundo tem um passado. Nem sempre revisitar o passado é uma experiência agradável, nem sempre o passado é um lugar seguro, às vezes, ao contrário, é onde um manancial de dor reflui, por isso toda literatura, mesmo a mais covarde, é uma prova de coragem.

Certa vez o senhor afirmou que “a realidade nos agride”. Muitos escritores dizem que escrevem para fugir da realidade entretanto, o senhor escreve com os pés bem fincados no real. Seria a imersão na realidade uma fuga ainda maior e mais ousada?
Sim, a realidade nos agride. Mas a ficção também nos agride. Com essa frase, eu apenas afirmo que viver dói, que não está unicamente em nossas mãos decidir pela ternura. O mundo é indiferente à nossa sensibilidade, o mundo segue, o mundo avança sem nos pedir licença, sem ligar se somos fortes o bastante para suportar o seu arrasto.

Além de escritor, o senhor trabalha com redação publicitária. Qual é o diálogo possível entre essas duas linguagens? O que o senhor levou de uma para a outra?
Sempre se pode observar a vida quando mesclamos duas águas. E nessa mistura, podemos aprender algo. Toda escrita, independentemente de seu gênero, é da ordem do humano e, sendo assim, pode irrigar, matizar, provocar outras escritas.

Ainda sobre as fronteiras da linguagem. No ano passado Bob Dylan ganhou o Nobel de Literatura, o que causou espanto e certa reprovação. Para o senhor, qual é o limite dos gêneros literários, haja vista que também subverte as normas que regem o que é o conto, romance?
Nenhuma arte é totalmente pura, assim como nenhum gênero literário está livre da contaminação de outro. Não importa a gradação, o quanto há de mistura entre dois ou mais gêneros, o quão apagadas estão as suas divisas, o que importa é a qualidade do híbrido que deles resulta.

Seus primeiros contos tratam da incomunicabilidade e da dificuldade do encontro. Já A Trilogia do adeus é um retrato da aprendizagem – mútua – por meio de diálogo, ainda que muitas vezes sejam conversas monologais. Essa mudança é uma consequência da maturidade e do aprofundamento das relações humanas?
A comunicação e a incomunicabilidade são duas linhas de força que se alternam em meus escritos. Nos contos, há certa predominância temática pela incomunicabilidade e pela dificuldade dos encontros plenos, mas a comunicação não está ausente. Por outro lado, em meus últimos romances, os narradores comunicam mais intensamente seus sentimentos, mas o indizível também vigora nas tramas, embora com menos ênfase.

[/fusion_builder_column][fusion_builder_column type=”1_1″ background_position=”left top” background_color=”” border_size=”” border_color=”” border_style=”solid” spacing=”yes” background_image=”” background_repeat=”no-repeat” padding=”” margin_top=”0px” margin_bottom=”0px” class=”” id=”” animation_type=”” animation_speed=”0.3″ animation_direction=”left” hide_on_mobile=”no” center_content=”no” min_height=”none”] Carrascoza: “acredito que a poesia não se encontra apenas em versos”. Foto Divulgação.

Ao tratar das relações humanas, a literatura – e a arte em geral – adquire um caráter social e político. O escritor exerce, ou precisa exercer, um papel combativo?
Toda literatura é um ato político, que não precisa ser panfletário. Não há como “ocultar” de um texto as condições de produção que determinaram a sua escrita. Mesmo numa obra de cunho social, o drama do indivíduo está presente, igualmente numa obra focada nos embates de um indivíduo, a sociedade no qual ele vive se insinua nas entrelinhas.

Recentemente, Zadie Smith comentou que usar as redes sociais tem ameaçado o seu processo de escrita. Como o senhor lida com essa questão?
Não é o meu caso. Eu uso as redes sociais apenas como território para a afetividade.

Sua literatura é extremamente poética, lírica e recheada de beleza. O senhor pensa em escrever poesia?
Acredito que a poesia não se encontra apenas em versos, é um acontecimento sensitivo materializado pela linguagem, podendo se espraiar pela prosa. Se você reconhece que minha literatura é poética, então eu já tenho escrito poesia (na forma de contos e romances). Literatura é poética, então eu já tenho escrito poesia (na forma de contos e romances).

Clique aqui e leia a resenha da Trilogia do Adeus.

Serviço

Conversa com João Anzanello Carrascoza | FLIM
Local: Salão Nobre | Colégio Medianeira
Quando: 8 de novembro
Horário:  10h20, 14h20 e 18h30[/fusion_builder_column][/fusion_builder_row][/fusion_builder_container]

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