12.04.18

Leonora Comegno: a linguagem da Química

Com mais de 20 anos de Medianeira, a educadora é referência de excelência humana e acadêmica.

[fusion_builder_container hundred_percent=”yes” overflow=”visible”][fusion_builder_row][fusion_builder_column type=”1_1″ background_position=”left top” background_color=”” border_size=”” border_color=”” border_style=”solid” spacing=”yes” background_image=”” background_repeat=”no-repeat” padding=”” margin_top=”0px” margin_bottom=”0px” class=”” id=”” animation_type=”” animation_speed=”0.3″ animation_direction=”left” hide_on_mobile=”no” center_content=”no” min_height=”none”] Para a professora Leonora, a Química é uma linguagem. Foto: Paulinha Kozlowski.

Por Jonatan Silva

A professora de Química Leonora Comengo está no Medianeira há mais de duas décadas. De lá para cá muita coisa mudou na dinâmica da sala de aula, no acesso do estudante à informação e aos conteúdos das disciplinas, porém, seu carinho pela sala de aula, pela partilha do conhecimento e, acima de tudo, seu respeito pelas turmas se renova ano após ano.

Consciente de que a Química está em tudo: da cadeia produtiva de bens de consumo às peças culturais, a educadora contextualiza a disciplina e aproxima o estudante desse universo tão vasto e que, às vezes, pode parecer inatingível.

Para conhecer um pouco mais sobre a trajetória da professora Leonora, leia abaixo o bate-papo.

Para começarmos, como foi a sua chegada ao Medianeira?
Eu sou paulista e vim para cá em 1990. Eu fazia mestrado na USP e eu conheci um sempre-aluno, o Francisco Kominus. Quando ele soube que eu vinha para Curitiba, e eu já dava aulas lá, ele me disse assim: “procura o Medianeira, que é a melhor escola de Curitiba. Eu estudei no Catarinense, que também é jesuíta, mas igual ao Medianeira não tem”.

Isso foi em 1990, 1991. Eu deixei meu nome aqui [/fusion_builder_column][fusion_builder_column type=”1_1″ background_position=”left top” background_color=”” border_size=”” border_color=”” border_style=”solid” spacing=”yes” background_image=”” background_repeat=”no-repeat” padding=”” margin_top=”0px” margin_bottom=”0px” class=”” id=”” animation_type=”” animation_speed=”0.3″ animation_direction=”left” hide_on_mobile=”no” center_content=”no” min_height=”none”][no Colégio], mas demorou uns quatro anos e meio para eu conseguir entrar no Medianeira. Na escola em que eu lecionava em São Paulo, a Logus, uma escola muito boa também, quando os professores souberam que eu viria para cá, eles me indicaram o Medianeira. E era professor assim: que deixou de dar aulas de História para virar diretor do curso de História e Geografia da USP. E esses colegas me indicavam o Medianeira como a melhor escola de Curitiba. Eu vim muito bem indicada.

Eu dei aulas em outro colégio aqui, a Nossa Senhora de Lourdes, que hoje é Bom Jesus, e lá eu conheci a Geralda [Colen, ex-professora de História do Medianeira] e um professor de Biologia que lecionava lá e aqui. Por isso, quando eu vim deixar meu nome, eu disse quem me indicava. Quando me chamaram para fazer a entrevista também haviam me chamado em outra escola. E eu não gostei nem um pouco dessa outra escola, achei muito machista e segregadora.  E, no final, eu vim para o Medianeira.

A Química permite várias frentes de trabalho em empresas, laboratórios, etc. Como você percebeu a vocação para ser professora?
A minha avó e a minha mãe eram professoras. O fruto não cai longe da árvore. Quando eu fazia faculdade, algumas amigas minhas foram trabalhar em indústria, fazer estágio. E era terrível. A mulher ganhava menos que o homem e uma amiga, que é negra, ganhava menos ainda para a mesma função. Então, a indústria não me atraiu.

Eu queria fazer pesquisa. Eu me formei e fui fazer mestrado. Como eu era bolsista, precisava trabalhar. Na minha época, a gente fazia bacharel e também tinha a opção de licenciatura, então eu fiz quatro anos de licenciatura e eu me encantei. Eu fui dar aulas de Química não por falta de opção, mas por opção. Eu lecionei na faculdade em que eu me formei, a Mackenzie, e eu não gostei de dar aulas para a universidade. Foi uma opção mesmo.

Ensinar Química é um desafio. Como você faz o estudante se interessar por uma disciplina considerada difícil?
É difícil e eu fui descobrindo isso pelo hábito. Eu estou no meu 35º ano como professora, então você vai aprendendo pelo estudante. Você vai observando e tentando melhorar aquilo que tem. Eu penso sempre que a primeira coisa é o aluno entender o porquê ele estuda Química na escola; que a Química faz parte de um processo capitalista e ela está na cadeia de produção. É muito importante trazer essa realidade para as turmas. E nesse trabalho, tem que mostra ao estudante aonde ele está e aonde ele quer chegar. Precisa ter uma visão mais ampla, é tudo muito fragmentado. No início do ano eu já mostro um diagrama: “nós estamos aqui e vamos passar por isso, isso e isso para chegar lá”. É nesse trato com a realidade para mostrar que o conhecimento é necessário para outro conhecimento.

O importante mesmo é que o professor tem que entender que o estudante tem que dar resposta, ou antes, o estudante traz as questões e você tem que trabalhar com aquilo. Eu aprendi isso com eles. “Por que eu tenho que estudar Química, professora?”. Quando uma menina me perguntou isso eu fiquei estática. Eu nunca tinha pensado nisso. Para mim é tão óbvio, mas para ela não era. E eu fui atrás de responder essa questão. Eu fiz mestrado em Educação, foi um grande desenvolvimento.
Eu fui dar aulas de Química não por falta de opção, mas por opção.
Podemos dizer que a Química é uma linguagem?
Ela é sim, inclusive, a Química é uma linguagem hermética porque tem símbolos específicos. Ela tem características específicas. O que a gente tem que fazer é descortinar. Por exemplo, a tabela periódica é um grande tabu. Tem que decorar a tabela? Não, ela é um mapa. Como os estudantes já viram mapa em História e Geografia, você se apropria disso para explicar que existem várias regiões, com determinadas característica. E por quê? Aí, você entra na Química. Quando você trata de uma forma que eles já conhecem, a tua linguagem fica mais acessível e vai abrindo aquela caixa de pandora. A Química tem uma linguagem própria e a gente tem que ir descortinando.

Como é possível relacionar os conteúdos da Química com as disciplinas “de humanas”?
É um construto humano. Para construir algumas músicas, Caetano Veloso e Gilberto Gil, por exemplo, tiveram que ter alguns conhecimentos [de Química]. Como a Química está no sistema produtivo, você tem muitos quadros, muitas músicas. A Química também está associada à tecnologia. Tem muita coisa da cultura com a qual a Química está vinculada. Os primeiros pensadores da Química eram filósofos. Você precisa conhecer um pouco de filosofia para ensinar modelo atômico.

Quando as pessoas falam “a Química é vida”. Eu acho isso tão bobo. A Química está no sistema produtivo e, por isso, é passível de crítica. Então, vamos usar isso, vamos trazer para a realidade, para o contexto histórico e atual. Eu não acho que a Química seja só a aplicação, mas também. A Química é técnica? É. É um conhecimento técnico, não dá para negar. Temos que usar todos os recursos para que o estudante possa entender o conteúdo sob diversos aspectos. Tem filmes que falam sobre isso, é só procurar.

“Ter contato com o jovem é muito importante e me deixa jovem também.” Foto: Paulinha Kozlowski.

Cazuza dizia que ser feliz é uma obrigação. O que mais te deixa feliz dentro da sala de aula?
Eu acho que tudo, mas principalmente você perceber aquele “hããã”, sabe? Acho que isso é o que motiva. Ter contato com o jovem é muito importante e me deixa jovem também. Eu tenho que estar na linguagem deles, eu tenho que entender os processos deles. Eu tenho que entender que os estudantes são pessoas: tem dia que não estão bem, tem dia que estão. E sempre mostrar que você está olhando para eles, porque eles também te olham.

Eles [os estudantes do Ensino Médio] são muito críticos e muito espertos. Você lança uma coisa e o retorno é muito rápido, diferente da faculdade – que já vem com um crivo e já são encaixotados. No Médio, não. Eles estão em formação e isso é maravilhoso. É um terreno fertilíssimo

Os estudantes têm muita curiosidade.
Sim, e eles  colocam você em xeque. Isso é muito bom porque o professor precisa estar atento. É isso que me faz ser feliz dando aula. Eu não sei se saberia fazer outra coisa.

E o que mudou no estudante, comparando com o momento em que você entrou no Medianeira?
Antes, a escola era vista como espaço de ascensão. Hoje, já se banalizou tanto o papel da escola, que o jovem já não a vê mais como algo importante para a vida dele. Por outro lado, ele está mais crítico ou, pelo menos, tem maior possibilidade dessa criticidade. O adolescente, anos atrás, era mais fechadinho. A informação é muito aberta, mas cabe ao professor educar e direcionar.

Eu vejo que a necessidade do jovem continua a mesma: de estabelecer relação com as pessoas, de ser uma pessoa melhor. No fundo, no fundo, ninguém quer ser uma pessoa ruim, todo mundo quer melhorar. Hoje, se pensa mais em aspectos humanos, ecológicos. O Medianeira é um lugar em que eu aprendi muito. Eu aprendi a lecionar aqui.

Falando em questões ecológicas, como o Abra seus olhos e veja coisas novas se insere nas aulas de Química?
A sustentabilidade sempre foi uma preocupação para mim. Na faculdade, eu já conhecia empresas que jogavam dejetos nos rios, poluíam o ar. Aqui na escola, em 2000, eu participei de um projeto que UFPR fez, em parceria com várias escolas, que era o Pro-Ar. Ali eu me encantei com o trabalho.

A gente mede sempre o ozônio, que é um gás produto de outros gases da poluição pela queima de combustíveis. Sempre foi uma preocupação e é um trabalho que eu acho muito legal. Até o ano passado a gente fez esse exercício de medição do ozônio aqui na escola e no Centro de Educação Ambiental (CEA).

Quando as turmas vão ao CEA, e sobem o [morro do] Bruninho, conseguem ver uma camada cinza bem acima da cidade. Os estudantes ficam perplexos. Ou, então, quando eles vêm na passarela, e olham em direção à CIC, conseguem ver [essa camada cinza], sobretudo na época da inversão térmica, em agosto. É nítido.
A Química é uma linguagem hermética porque tem símbolos específicos. Ela tem características específicas. O que a gente tem que fazer é descortinar.
De toda a sua trajetória aqui no Colégio, qual momento você considera o mais emocionante?
São vários os momentos. Acho que os estudos que fizemos aqui. As especializações, as confraternizações são sempre muito bacanas. Mas, especialmente, quando a minha filha se formou. Quando ela entrou para eu dar aula, o primeiro dia, eu tive que virar para o quadro e respirar três vezes porque aquilo me emocionou. Como eu digo para os estudantes: eu já dei aula para mauricinho, para patricinha e, inclusive, para a minha filha. Isso foi um momento muito marcante para mim.

Algumas turmas também me marcaram bastante. Você vê o final do ano, a formatura dessas pessoas, pessoas que você ajudou a formar. Sempre que você encontra um sempre-aluno me emociona.

Para finalizarmos, você poderia indicar um livro, filme e um disco?
– Música: Um índio”, de Caetano Veloso. “Queremos saber”, de Gilberto Gil.

Filmes: Tempos modernos, de Charles Chaplin.

– Livro: Tabela periódica, de Primo Levy.[/fusion_builder_column][/fusion_builder_row][/fusion_builder_container]

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