21.03.17

Hélcio Scardanzan: futebol e educação

O educador está no Medianeira há 16 anos e é um exemplo de excelência humana e acadêmica.

[fusion_builder_container hundred_percent=”yes” overflow=”visible”][fusion_builder_row][fusion_builder_column type=”1_1″ background_position=”left top” background_color=”” border_size=”” border_color=”” border_style=”solid” spacing=”yes” background_image=”” background_repeat=”no-repeat” padding=”” margin_top=”0px” margin_bottom=”0px” class=”” id=”” animation_type=”” animation_speed=”0.3″ animation_direction=”left” hide_on_mobile=”no” center_content=”no” min_height=”none”] Hélcio durante a abertura das Olimpíadas da Educação Infantil ao 5º ano em 2016. Foto: Paulinha Kozlowski.

Texto e entrevista por Jonatan Silva

O professor Hélcio Scardanzan, responsável pelos treinos de Futebol do Colégio Medianeira chegou à instituição enquanto procurava uma escola para o filho. Naquela época, seu nome já estava escrito na história do esporte, sendo campeão brasileiro pelo Coritiba, em 1985, e campeão da Copa do Brasil pelo Grêmio, em 1989. Atualmente, Hélcio é um exemplo de excelência humana e acadêmica para alunos e alunas e de comprometimento com a formação integral.

Leia abaixo o bate-papo completo com o educador:

De jogador campeão brasileiro a professor de Educação Física. Sua trajetória profissional é marcada por desafios e muitas conquistas. Gostaria que você nos contasse como chegou ao Colégio Medianeira.
Eu e a minha esposa procurávamos uma escola para nosso filho e viemos até o Medianeira. A proposta [/fusion_builder_column][fusion_builder_column type=”1_1″ background_position=”left top” background_color=”” border_size=”” border_color=”” border_style=”solid” spacing=”yes” background_image=”” background_repeat=”no-repeat” padding=”” margin_top=”0px” margin_bottom=”0px” class=”” id=”” animation_type=”” animation_speed=”0.3″ animation_direction=”left” hide_on_mobile=”no” center_content=”no” min_height=”none”][pedagógica] agradou e aqui eu dei de cara com o Douglinhas, que foi meu primeiro preparador físico no Coritiba e dali começou. Eu já estava cursando Educação Física, conversei com ele, que falou sobre a possibilidade de eu ter uma oportunidade aqui [no Colégio Medianeira] com o Futebol. Eu passei meu currículo e o Chicão [coordenador do Centro de Esportes] me aprovou e, daí em diante, comecei a trabalhar no Medianeira.

O título brasileiro de 1985, pelo Coritiba, foi um momento marcante na sua carreira e também para o futebol paranaense. Como foi jogar ao lado de Toby (falecido em 2015), André e Almir?
Em 1984, a gente passou do [time] Júnior [do Coritiba] – já tinha algumas concentrações junto com o pessoal do Profissional – e naquele ano eu estreei no [Campeonato] Brasileiro, tanto que eu fiz uma ótima campanha. Eu já jogava com o Toby no Júnior. Era o Toby, Vavá, André, Luizinho, Divino, Gil. Esse pessoal já tinha um certo entrosamento, acho que por isso em 1985 deu certo. Foi uma mescla de profissionais gabaritados, jogadores experientes, com essa leva de jogadores que estavam subindo do Júnior e estavam com muita vontade de mostrar o seu trabalho.

E no ano seguinte você foi convocado para a Seleção Brasileira. Qual a sensação de vestir a camisa canarinho?
Acho que o jogador de futebol, pelo menos antigamente, o sonho dele era jogar no time que ele escolheu, foi introduzido, subindo, que, claro, pega amor, e ganhar um título. Junto com isso, tem o sonho da Seleção. Não tem um jogador que chegue a um time e que não sonhe com a Seleção Brasileira.

Eu estava em uma fase muito boa, mas na época havia outros laterais bons, que estavam em times grandes, e isso é sempre mais valorizado. Quando eu fui convocado foi uma emoção muito grande para mim e para a minha família. Era um sonho realizado, mas eu tinha que chegar lá e mostrar meu trabalho. Nesse momento nós fomos para um sul-americano no Chile e eu não tinha a oportunidade de mostrar no jogo o meu trabalho. Eu fui convocado e o treinador chegou para mim e falou: “você está entre os que vão viajar pro Chile, mas no banco [de reservas]”. Ele já me deu a letra antes de sair daqui do Brasil, só que no primeiro jogo ele trocou o time titular e o lateral que jogava não estava bem. Ele foi obrigado a fazer um teste comigo e se surpreendeu, tanto é que depois me elogiou até no Jornal Brasil, do Rio de Janeiro, e tentou me levar para o Botafogo. Para mim foi uma emoção muito grande ouvir o Hino Brasileiro fora do Brasil. Nossa, você faz tudo pela Seleção. Foi muito emocionante.

E você ainda foi campeão pelo Grêmio na primeira edição da Copa do Brasil.
A Copa do Brasil valorizou muito hoje em dia, porque o campeão vai para a Libertadores. Eu cheguei no Grêmio no Começo de 1989 e surgiu essa copa para elitizar o Campeonato Brasileiro, porque só competiam os campeões e vices de cada estado, antigamente. Nós entramos naquele mata-mata e o Grêmio sempre teve a fama de ser um time de copa e, naquele ano, a equipe era muito forte, se tornou muito forte com a chegada de vários jogadores, porque quando eu cheguei o Grêmio estava para cair para segunda divisão [do Campeonato Gaúcho]. Na semana em que cheguei teve um jogo muito importante contra o Glória de Vacaria, líder do grupo. O Grêmio precisava de uma vitória para não jogar o rebolo do campeonato para não cair.

E, naquele ano, chegou eu, o Edinho, o Jandir, e ganhamos o jogo de 2 x 1. O time entrosou e foi. Começou o Campeonato [Brasileiro], era mata-mata, empatava fora e, quando não empatava ganhava. Dentro de casa a gente resolvia tudo, parecia um caldeirão. A torcida sempre nos apoiou. O Grêmio tinha um momento de entrar no campo e tocar o hino – hino do Grêmio é muito forte – que parecia uma arena.

Eu cheguei a vice lá de novo em 1991. A gente jogou contra o Criciúma. A gente empatou em casa 1 x 1 e empatamos em Criciúma em 0 x 0.

E jogar dentro de casa faz toda a diferença.
Faz toda a diferença. Se você tem um time bom e joga fora, muitas vezes, o time se retrai. Não porque o treinador manda se retrair, mas inconscientemente se retrai. Quando o time é superior, aí tudo bem, mas quando se iguala, e a torcida está jogando junto, é bom demais. É uma força, uma energia.

Tem dias em que você sente mais torcida, mas tem dias que você não houve a torcida. Você está no jogo, tem momentos que aquilo apaga, parece um silêncio só. Mesmo que a torcida esteja fazendo batucada, gritos e de guerra, aquilo apaga, sai de você. Você é um, jogador ali dentro, é o cara que tem fazer. Eu não sei explicar como é sair de si, ficar focado naquilo ali.

De certa maneira, tudo isso só foi possível graças a sua amizade com Wladimir Ferraz.
O Wladimir é meu amigão da época de escola, a gente batia bola junto, jogava no mesmo time. Quando erámos do juvenil, jogávamos contra. Eu nunca tinha vindo assistir jogo profissional aqui em Curitiba. Eu vim de uma família muito pobre e nunca tive interesse. Eu comecei a trabalhar em um mercado, o Mercado Xavier, lá na Lapa, e teve um dia em que o Wladimir falou: “vamos assistir o Coritiba?”. O Coritiba estava bem no campeonato. Acho que isso era 1979. “Eu vou com você”, eu disse. Ele ia de carona com o primo dele e a gente estava entrando no Couto [Pereira, estádio do Coritiba], eu me lembro até hoje, estava jogando o Tobi, o Eliseu, que acabaram sendo meus colegas. Veja você, só Deus mesmo, até me arrepia.

O Wladimir chegou para mim e falou: “Hélcio, já imaginou você jogando com esses caras, aí?”. Eu disse: “Wladimir, é meu sonho” e caiu lágrimas do meu olho.

Torcida do Coritiba comemora título do Brasileiro em 1985 nas ruas da capital paranaense. Foto: Divulgação/Coritiba Football Club.

Cinco anos depois e você estava lá.
Não, não. Um tempo antes, uns cinco meses antes, o [time] Veterano do Santos foi jogar na Lapa e, segundo algumas pessoas, era para me ver. Eu entrei no jogo e depois fomos jantar. O pessoal falou: “você joga bem”. E aquilo ficou. Essas pessoas que tinham feito esse contato um dia chegaram para mim e disseram: “Hélcio, você quer no Santos ou no Coritiba?”. O cara não me deixou nem responder, disse que o Coritiba era melhor, mais perto, e eu estaria perto da minha família. Qualquer lugar para mim estava bom, mas a conversa morreu.

Eu devia ter uns 13 ou 14 anos. O rapaz que tinha falado comigo era dono de um mercado em frente ao que eu trabalhava. E um dia ele mandou eu ir lá conversar com ele. Fui lá e veio com o mesmo papo. Passou uma semana, tinha o seu Elísio de Jesus – o filho dele, o Ênio, jogou no Colorado –, fez o contato: “seu Cizico, tem um rapaz que joga bola aqui, não quer vir ver?”. Ele foi um dia lá para me ver, mas não me viu porque eu jogava no Avaí e ele foi no jogo do União. Já era para eu jogar no time titular mas, por conta da idade, não podia.

O seu Elísio foi no mercado um dia e disse: “Hélcio, o Cizico veio aí te ver e quer marcar um dia para você ir no Coritiba fazer um teste”. Conversei com meu patrão, que me liberou. Eu achei que não fosse acontecer. Saí do trabalho e fui bater bola com meus irmãos. Por volta das 18h30 e 19h, a minha tia gritou: “os caras do Coritiba estão aí”. Nessa hora é que eu fui tomar um banho e procurar as minhas coisas.

Naquele tempo, eu não tinha nem chuteira e emprestei uma do meu irmão. Emprestei uma mala, não tinha nada para levar para emprestar uma mala desse tamanho [e estica os dois braços]. Eu lembro que os caras me tiraram sarro, eu usava óculos na época. Quando eu desembarquei do carro com o seu Zé de Oliveira e o Bugrão, eles [os outros jogadores] disseram: “esse cara aí, nem enxerga nada, vai jogar o quê?”.

Eu fui dormir e, no outro dia, a gente foi para um [treino] coletivo, eu infernizei os zagueiros e fiz gol, dei uma caneta no Divino. Até hoje ele fala comigo e diz que nunca esqueceu aquela caneta. É ele falar comigo, tem que falar da caneta. Aqueles jogadores que eu fui ver jogar contra o Botafogo, uma semana depois eu estava fazendo dois toques. Como faltou jogador, o treinador disse para eu e o Amaral irmos fazer dois toques com o profissional. Eu joguei com o Aladin, com o Freitas, o Gardel, o Almir. Eu dizia: “o que é isso? Só Deus, mesmo”.

Teve um dia que eu saí almoçar e tinha uma greve dos professores. Eu sentei na arquibancada. Quem estava lá? Quem é que veio junto com os professores? O Wladimir. Ele me viu lá no outro lado. Foi algo tão repentino, a minha vinda para Curitiba, que eu nem tinha falado nada. Eu queria não ficar dando uma de bom e não dá certo. Eu guardei para mim. Quando ele voltou para a escola, falaram que eu tinha vindo para Curitiba para fazer teste.

O educador ao lado do grupo de sempre-alunos que formaram o time “Filhos do Hélcio”. Foto: Paulinha Kozlowski.

De que maneira a sua experiência em campo como jogador profissional o ajuda como professor?
Acho que você não muda. Se tem uma coisa que eu aprendi desde criança é que você não pode achar que é mais que outros porque subiu um pouco. Hoje eu vou na minha cidade e sou o que eu era, tanto que o pessoal continua me ligando. Até tive um convite para jogar bola esses dias. Essa simplicidade eu gosto de passar para as crianças. A gente está aqui na Terra de passagem. Não importante o que você tem, importa o que você é.

O Medianeira, nessa forma de ver o mundo e se organizar, e o pensamento dos 4 C’ s [competente, consciente, compassivo e comprometido] faz a criança cuidar do outro.

Como o seu trabalho ajuda a formar sujeitos competentes, conscientes, compassivos e comprometidos?
Acho que pelo dia a dia, de estar junto. Você participa de muito campeonato e a gente tem que ir mostrando para as crianças o comportamento dentro e fora do colégio, como é o nosso lado, como é o outro lado. Há um choque, às vezes, você vai fazer um amistoso em determinado local e o vestiário não é o que a gente quer. A gente tem que estar lá e respeitar. Nem tudo pode ser como a gente quer, tem muita coisa diferente. É aí que entra o professor, para intervir e mostrar o lado bom e o lado ruim de tudo o que acontece, e tudo o que esporte faz para essas crianças – na parte física, no comportamento, na alimentação.

Qual foi o momento mais emocionante de sua trajetória no Medianeira?
Ano passado eu tive a experiência de ser convidado pela Silvana [Andretta], coordenadora da Educação Infantil e do Fundamental Fase I, para levar a tocha olímpica nas Olímpiadas. Foi uma emoção muito grande, até melhor que ganhar um título. Foi gratificante ver aquelas crianças gritando meu nome, professores amigos vindo me dar parabéns. Não tem dinheiro que pague isso. Você está ali com o pessoal que trabalha e luta com você, com os meninos que eu treino.

Eu tive outra emoção muito grande. Os meninos da PUC fizeram um time e colocaram como nome “Filhos do Hélcio”. Você vê, alguma coisa eu consegui colocar na cabeça deles. Que dinheiro paga uma coisa dessa? Talvez eu não tenha dado tanta importância para um título quanto para esses dois fatos. Foi uma choradeira só.

E qual o mais engraçado?
Tem vários momentos. Você fica ouvindo as crianças e elas são puras. Quando elas gostam de você, elas gostam mesmo. Nem hora que não pode rir, mas eu dou risada por dentro. As crianças são muito divertidas.

Para terminarmos: poderia indicar um livro, um disco e um filme?
Disco: Martinho da Vila.

Disco: Marisa Monte.

Filme: Sociedade dos Poetas Mortos, de Peter Weir.

Livro: Caminhos De Mandela, de Richard Stengel.

Leia aqui o perfil de outros educadores.[/fusion_builder_column][/fusion_builder_row][/fusion_builder_container]

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